O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses afirmou hoje que a Madeira devia ter pedido ajuda externa mais cedo no incêndio de agosto e que deveriam ter sido colocados meios aéreos e apeados mais cedo na região.
“Uma situação como esta determinaria, do nosso ponto de vista, um pedido de ajuda mais cedo, em particular de meios aéreos”, declarou António Nunes, sustentando que Portugal está inserido no mecanismo europeu de Proteção Civil, existem acordos bilaterais com Espanha e Marrocos e o país tem capacidade de enviar meios aéreos para a Madeira.
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses falava, por videoconferência, na comissão de inquérito da Assembleia Legislativa da Madeira para apuramento de responsabilidades políticas no combate aos fogos de agosto.
O responsável considerou que “o que dificultou o controlo do incêndio foi a falta de meios adequados”, sublinhando que deviam ter sido “colocados na região autónoma meios aéreos mais cedo e meios apeados mais cedo”.
Na perspetiva de António Nunes, desde que o incêndio teve início, em 14 de agosto, devia ter existido “um acompanhamento mais dirigido à avaliação do que é que aconteceria no momento seguinte”.
Mesmo não podendo os meios aéreos e humanos atuar em todos os momentos, devido às condições meteorológicas e à orografia da ilha, “é sempre melhor mobilizar os meios atempadamente e colocá-los em reserva”, para que, quando haja oportunidade, possam atuar, acrescentou.
Questionado se o Plano Regional de Emergência e Proteção Civil poderia ter sido ativado mais cedo, o presidente da Liga dos Bombeiros respondeu afirmativamente, apontando que estes planos, “que permitem uma coordenação mais eficaz” do combate a incêndios, “devem ser ativados de imediato”.
Já sobre a não integração da Madeira no Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais 20-30, António Nunes disse não ter a certeza de que “a situação fosse diferente, estando ou não estando integrada nesse plano”.
Na opinião do responsável, trata-se de um plano complexo e burocrático.
Questionado pela deputada do PSD Cláudia Perestrelo se é possível afirmar que a estratégia de combate ao incêndio acabou por ser bem sucedida, uma vez que não se registaram mortes ou danos em habitações e infraestruturas públicas, António Nunes realçou que “não está em causa o resultado final”, mas sim o “período intermédio”.
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses alertou que o incêndio causou prejuízos no meio ambiente e que o combate poderia ter sido antecipado.
A comissão de inquérito de apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre o dia 14 e o dia 26 de agosto foi requerida pelo PS e integra deputados dos sete partidos com representação parlamentar – PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, IL e PAN –, sendo presidida pela deputada socialista Sancha Campanella.
O incêndio rural deflagrou na ilha da Madeira em 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. Ao fim de 13 dias, a Proteção Civil regional indicou que o fogo estava “totalmente extinto”.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.104 hectares de área ardida, embora as autoridades regionais tenham sinalizado 5.116, dos quais 139 de floresta laurissilva, classificada como património natural da humanidade.
Segundo o executivo madeirense, não houve registo de feridos ou destruição de casas e infraestruturas públicas essenciais, mas os estragos ao nível da agricultura, da pecuária e da apicultura afetaram cerca de 200 produtores. Por outro lado, 120 moradores da Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, foram retirados do local e continuam impedidos de regressar.