O Papa encontrou-se hoje, em Veneza, com os artistas que participaram no Pavilhão do Vaticano na 60ª Exposição Internacional de Arte, destacando a importância do seu trabalho para superar o racismo, as desigualdades sociais ou a crise ecológica.
“Daqui, gostaria de enviar a todos esta mensagem: o mundo precisa de artistas. É o que demonstra a multidão de pessoas de todas as idades que frequentam espaços e eventos artísticos”, declarou Francisco, primeiro pontífice a visitar a Bienal na cidade italiana.
Após ter saudado as reclusas da prisão feminina de Giudecca, Francisco dirigiu-se para a igreja da Madalena (Capela da prisão) onde foi recebido pelo prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação e comissário do Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Arte de Veneza, o cardeal português D. José Tolentino Mendonça.
O Papa desafiou os participantes a imaginar “cidades que ainda não existem no mapa, cidades onde nenhum ser humano é considerado um estranho”.
A intervenção destacou a importância da arte para combater “o racismo, a xenofobia, a desigualdade, o desequilíbrio ecológico e a aporofobia, esse neologismo terrível que significa “’fobia dos pobres’”.
Francisco disse sentir-se “em casa”, recordando que em junho de 2023 tinha promovido um encontro com artistas de todo o mundo, na Capela Sistina.
O Papa precisou que estas “cidades de refúgio” são uma instituição bíblica, destinada a “evitar o derramamento de sangue inocente e a moderar o desejo cego de vingança, a garantir a proteção dos direitos humanos e a procurar formas de reconciliação”.
“Seria importante que as diferentes práticas artísticas se constituíssem por toda a parte como uma espécie de rede de cidades-santuário, trabalhando em conjunto para libertar o mundo das antinomias sem sentido e vazias que procuram impor-se”, apelou.
Francisco convidou a superar a “rejeição do outro” e o egoísmo, que faz das pessoas “ilhas solitárias em vez de arquipélagos colaborativos”.
“Peço-vos, colegas artistas, que imaginem cidades que ainda não existem no mapa: cidades onde nenhum ser humano é considerado um estranho. É por isso que quando dizemos ‘estranhos em todo o lado’, estamos a propor ‘irmãos em todo o lado’”, acrescentou.
“A arte educa-nos para um olhar contemplativo”, observou Francisco, pedindo que os artistas “saibam distinguir claramente a arte do mercado”.
“É certo que o mercado promove e canoniza, mas há sempre o risco de vampirizar a criatividade, de roubar a inocência e, finalmente, de instruir friamente sobre o que fazer”; precisou.
A intervenção destacou ainda o simbolismo deste encontro decorrer numa prisão feminina.
“É verdade que ninguém tem o monopólio da dor humana. Mas há uma alegria e um sofrimento que se unem no feminino de uma forma única e que devemos escutar, porque têm algo de importante a ensinar-nos. Estou a pensar em artistas como Frida Khalo, Corita Kent ou Louise Bourgeois e muitas outras”, declarou o Papa.