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Artigo de Opinião

DO FIM AO INFINITO

15/09/2023 08:00

Ouvi som de música ao vivo no bar-restaurante de uma pensão na rua principal, que era um dos meus poisos preferidos. O recinto estava apinhado, mas havia uma mesa disponível, como se estivesse à minha espera. Sentei-me e pedi um uísque duplo.

A banda era composta por seis rapazes negros bem-parecidos, não muito altos, todos magrinhos. Vestiam camisolas muito coloridas e tocavam e cantavam com muita alegria. Finda a canção, entrou em cena o apresentador e disse assim:

- Senhoras e senhores, palmas para a Banda Sem Nome.

As pessoas bateram palmas e o apresentador disse:

- Enquanto a Banda Sem Nome toma fôlego, vou contar uma anedota.

Percebi, então, que o espetáculo se dividia entre a atuação da banda e a atuação do apresentador. A banda tocava uma música e depois o apresentador contava uma anedota, como esta de um homem que queria sair com os amigos mas a mulher não deixava, porque era muito ciumenta. Porém, naquele dia, ele queria mesmo sair e, aproveitando uma ida da mulher à casa de banho, fugiu e foi ter com a malta, mas depois o telefone tocou e ele reconheceu o número da mulher. Ficou nervoso, mas decidiu atender e disse:

- Neste momento não é possível estabelecer a ligação que deseja. Por favor, tente mais tarde.

As pessoas riram.

A banda tocou ‘Mulher de 40’, de Roberto Carlos, e depois o apresentador contou a anedota do homem que queria livrar-se da esposa, que era cega, e então sugeriu-lhe que fossem passear. Levou-a até uma linha de comboio e, vendo que se aproximava um, atravessou e pediu-lhe que fizesse o mesmo, dizendo que dava tempo, mas assim que ela deu um passo foi colhida pela máquina.

As pessoas bateram palmas, mas eu cá fiquei perdido. Que raio de anedota!

A Banda Sem Nome tocou mais uma canção - agora em lomwé e em ritmo africano - e a seguir o apresentador avançou com mais uma anedota:

Havia um casal muito pobre, mas mesmo muito pobre, pelo que a mulher se prostituía sem o marido saber para arranjar algum dinheiro. Um dia, alguém informou-o de que a mulher era uma puta e ele decidiu tirar a coisa a limpo, pelo que fingiu sair de casa e escondeu-se debaixo da cama.

A mulher entrou no quarto com um homem e os dois fizeram o que tinham a fazer e depois esse tipo, que por sinal era um indivíduo sensível, decidiu oferecer uns sapatos ao marido daquela senhora tão prestável. Perguntou-lhe que número calçava o cornudo e ela disse que não sabia, porque nunca compravam sapatos. O homem insistiu e o marido, que estava debaixo da cama, vendo que ia perder um par de sapatos novos, fez voz fininha, tentando imitar a mulher, e disse:

- 42.

As pessoas riram e aplaudiram muito. Desta, gostaram mesmo! Eu também, mas pelo lado trágico da história…

A banda continuou a tocar em compasso africano e língua local e o apresentador prosseguia com as anedotas:

Dois amigos viviam na periferia de uma grande cidade e decidiram ir ao centro tomar uns copos. No regresso, sendo noite cerrada e estando ambos bastante embriagados, enganaram-se no caminho e começaram a andar na linha férrea. Andaram, andaram, andaram e aquilo nunca mais tinha fim. Às tantas, o que ia à frente disse assim:

- Porra, esta escada nunca mais acaba!

O outro, que seguia atrás agachado, reagiu:

- O problema não é o tamanho da escada, o problema é o corrimão ser demasiado baixo.

De repente, a Banda Sem Nome põe toda a gente a dançar no meio do restaurante e lá fora começa a chover. Uma chuva inesperada, pensei eu, que ia já no terceiro uísque. Duplo. Uma coisa inesperada, sem dúvida. Como a chuva. E o canto da água, misturado com o vapor do álcool, encheu-me de uma súbita felicidade.

Então, levantei-me e pus-me também a dançar…

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