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Artigo de Opinião

Gestor do Europe Direct Madeira

16/09/2021 08:01

Entre 16 e 22 de setembro, aos cidadãos europeus é oferecida a oportunidade de usufruírem de um conjunto diversificado de atividades, tendo como objetivo central a promoção do debate público sobre a inevitável mudança de comportamentos que terá de haver se quisermos alcançar mobilidades mais sustentáveis e mais eficientes.

Já em 2000, no lançamento do DESC, ouviam-se apelos para a urgência da promoção de novas atitudes em matéria de escolha do transporte nas deslocações diárias, alertando-se simultaneamente para a necessidade crescente de protegermos a qualidade do ar, mitigarmos o aquecimento global, reduzirmos o ruído, entre outros. A criação de uma ambiente urbano mais saudável recomendava, já nessa altura, reconsiderar a utilização do automóvel particular.

Todavia, passar da teoria à prática nem sempre é tão fácil quanto parece, sobretudo quando isso interfere no conforto e nos hábitos adquiridos ao longo dos anos. Progressivamente, os carros foram dominando a paisagem urbana, com tudo o que isso implica em matéria de infra-estruturas de suporte, nomeadamente, as onerosas vias de comunicação e o parqueamento. Cada vez mais acessíveis e desejados por um crescente número de cidadãos, trouxeram inegavelmente o conforto, a liberdade de circulação e estimularam o crescimento económico. Mas promoveram em simultâneo, um estilo de vida que acarreta enormes custos ambientais. De certa forma, os carros tornaram-se vítimas do seu próprio sucesso. Em grandes aglomerados urbanos, o tempo médio de deslocação tornou-se tão elevado que a sua utilização começou a ser reequacionada (o custo do congestionamento para a sociedade está estimado em 270 mil milhões de euros por ano na UE!). Também as concentrações de poluentes na atmosfera atingiram, em muitos casos, valores verdadeiramente preocupantes. Na UE, segundo dados da Agência Europeia do Ambiente (AEA) publicados no Relatório sobre a Qualidade do Ar (2020), apenas quatro países europeus apresentavam concentrações de partículas finas (PM2,5) inferiores aos valores definidos pela OMS. O relatório acrescenta ainda que a exposição a estas partículas finas terá causado a morte prematura a cerca de 379 mil pessoas (UE-28)!

Por conseguinte, assegurar as deslocações diárias sem agravar o atual panorama climático, tornou-se um dos principais desafios que se colocam a muitas cidades. O triângulo "mobilidade - crescimento económico - poluição", afigura-se delicado e difícil de gerir, em muitos casos devido à aparente incapacidade de aplicar medidas que, sendo acertadas do ponto de vista ambiental, nem sempre são bem aceites pelos cidadãos. A este nível, o relatório especial Mobilidade urbana sustentável na UE (2020) do Tribunal de Contas Europeu refere que a concretização de melhorias significativas na mobilidade urbana sustentável pode exigir mais tempo do que desejaríamos, pois "não existe uma indicação clara de que as cidades estejam a mudar fundamentalmente as suas estratégias nem, em particular, uma tendência clara para incentivarem modos de transporte mais sustentáveis", não se registando uma redução significativa na utilização do automóvel particular.

Em suma, não basta falarmos de "mobilidade sustentável". É preciso pôr em prática o que este conceito realmente significa, ou seja, ações concretas assentes no desenvolvimento de estratégias capazes de promover uma transição progressiva para deslocações mais ecológicas - a pé, de bicicleta ou em transportes públicos, por exemplo, bem como, novos padrões de utilização do automóvel. No entanto, a questão para um milhão de euros é esta: estaremos mentalmente preparados para estas mudanças?

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