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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

14/10/2022 08:00

À medida que os dias passam, as manifestações de protesto prolongam-se com muitas vidas sacrificadas pela crueldade despótica do poder desse país, fundamentado em crenças religiosas e tradições atávicas de subjugação e menorização das mulheres.

Vejo as imagens e não consigo evitar fazer um paralelo com a nossa realidade. É incomparável. Sem qualquer dúvida! Já passou pouco mais de meio século sobre o tempo em que devíamos cobrir a cabeça com véu para entrar numa igreja, em que precisávamos da licença do marido para viajar, devíamos usar saias de comprimento apropriado, fingir indiferença aos "piropos" lançados nas ruas, enfim! A lista seria longa e já vamos esquecendo.

Estamos na segunda década do século XXI, confiantes que tudo mudou. No entanto, quão profunda terá sido mesmo esta mudança? Até que ponto as mulheres alcançaram equidade com os homens no mundo laboral, em ambiente doméstico, na representatividade social, na ocupação de cargos de chefia, etc. ? No nosso coletivo — homens e mulheres —até que ponto aceitamos melhor uma liderança dependendo de quem a exerce ser mulher ou homem? Teoricamente diríamos ser igual. Porém, se atentarmos, constatamos que a tolerância é maior e as críticas menos ferozes em relação a uma chefia masculina e disso temos tido testemunho em alguns casos, na política e outras áreas da vida na nossa sociedade atual.

O mundo, dito, ocidental continua muito organizado de uma perspetiva machista (por parte dos homens e das mulheres), não obstante as alterações alcançadas. Ter uma carreira é ainda, genericamente falando, difícil para uma mulher, em grande parte pela sua ligação intrínseca à maternidade. Uma bênção, sem dúvida, mas com implicações que levam a que muitas adiem o projeto de ser mãe ou simplesmente o anulem dos seus propósitos de realização pessoal. E esta é também uma questão que recai primordialmente sobre a mulher, já que é ela a preocupar-se com a prevenção da gravidez porque poucos homens aceitam recorrer a contracetivos.

A nossa população tem decrescido de forma perturbadora e a solução tem sido abrir portas à imigração. O fulcro da questão, contudo, continua invisível, já que, ninguém parece ver o fundamental: a urgência da valorização desse papel da mulher, o de ser mãe. Para ganhar voz e respeito dos seus pares, a mulher tem de ter uma profissão. Se quiser ser mãe, terá de desdobrar-se para responder às solicitações de ambos os mundos, familiar e laboral. Se optar por ser mãe a tempo inteiro, perderá qualquer autonomia económica e será menorizada. Ficará sujeita à generosidade ou crueza do companheiro, tantas vezes calando a desdita e a revolta para proteger os filhos. Até quando permanecerá minorado este imprescindível papel social? Não defendo a condenação das mulheres à trabalhosa e não remunerada vida doméstica, como aconteceu ao longo dos séculos, penso, pelo contrário que são necessários mais mecanismos para garantir o equilíbrio da subsistência das famílias durante o tempo crucial para o apoio à vida das novas gerações ou simplesmente desapareceremos como povo.

Enquanto nos solidarizamos com as mulheres iranianas, não podemos descurar o caminho que temos a percorrer.

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