O sócio da consultora Deloitte que supervisionou a auditoria forense ao Grupo Espírito Santo, Joaquim Paulo, afirmou hoje que não havia uma normativa que regulasse o crédito entre empresas no grupo.
“Não havia normativas internas que regulassem o crédito entre empresas no Grupo [Espírito Santo, GES]”, afirmou esta manhã, numa audição no âmbito do julgamento do Banco Espírito Santo/GES, em Lisboa, referindo-se ao Banco Espírito Santo Angola (BESA).
Questionado pelos magistrados sobre a opacidade de um exercício de consolidação, Joaquim Paulo explicou que quando se juntam resultados de duas empresas, “o que acontece é que, na prática, é somada ou agregada a informação das duas entidades”.
A auditoria forense solicitada pelo Banco de Portugal (BdP), entregue em março de 2015, concluiu que houve falhas repetidas e sistemáticas nos sistemas de controlo interno por parte do BES e da holding do GES, a Espírito Santo Financial Group (ESFG).
De igual forma, a auditoria tinha ainda concluído que o aumento da exposição do banco português a Angola foi um ato com potencial de gestão ruinosa.
Segundo Joaquim Paulo, em outubro de 2013 houve “o reconhecimento pelo BESA de que havia problemas na carteira de crédito”, mas “não houve uma mensagem concisa do que eram estes problemas”.
O sócio da Deloitte acrescentou que em março de 2013, o BESA contava com crédito concedido de 5,6 mil milhões de dólares.
Dez anos após a derrocada do BES e GES, o julgamento do BES/GES decorre em Lisboa desde outubro.
O ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.
Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades RioForte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.
Segundo o MP, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.