Portugal manifestou a São Tomé e Príncipe “estranheza” e “apreensão” pelo acordo de cooperação técnico militar assinado com a Rússia, revelou, na quinta-feira à noite, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel.
”Assim que houve notícia deste acordo, entrámos em consultas com as autoridades são-tomenses para explicar que, Portugal - em primeiro lugar - e, entretanto, ao longo do dia outros estados europeus manifestaram estranheza, apreensão e perplexidade perante este acordo”, disse Paulo Rangel em entrevista ao canal televisivo SIC Notícias.
Acrescentou que manifestou preocupação diretamente ao homólogo de São Tomé e Príncipe durante o dia de quinta-feira, ressalvando, no entanto, que São Tomé e Príncipe é um estado “independente e soberano” com “legitimidade total” para fazer as suas escolhas.
”Estando nós na situação internacional em que a Federação Russa é autora de uma guerra de agressão que, além do mais, põe em causa o continente europeu, evidentemente que manifestamos uma grande preocupação”, disse.
Acrescentou que, no contexto da “ótima relação” que existe entre Portugal e São Tomé e Príncipe, foram ativados os canais diplomáticos para avaliar a situação e fazer valer os pontos de vista de Portugal sobre esta parceria.
Fonte do Ministério da Defesa e Administração Interna de São Tomé e Príncipe confirmou na quarta-feira à agência Lusa a assinatura com a Rússia de um acordo técnico militar que prevê formação, utilização de armas e equipamentos militar e visitas de aviões, navios de guerra e embarcações russas ao arquipélago.
A assinatura do acordo “por tempo indeterminado” foi noticiada pela agência de notícias oficial russa Sputnik, que revelou que o acordo foi assinado em São Petersburgo em 24 de abril e começou a ser implementado em 05 de maio.
A Iniciativa Liberal (IL) mostrou-se preocupada com o que considera uma aproximação da Rússia aos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)e manifestou a intenção de chamar Paulo Rangel ao Parlamento para mais explicações.
Na entrevista à SIC Notícias, Rangel considerou que não podemos falar da CPLP “como se Portugal tivesse alguma tutela sobre algum estado” da comunidade.
”A relação que se estabelece entre Portugal e qualquer outro estado da CPLP é uma relação de igual para igual”, sublinhou.
Recordou ainda que, no passado, pouco depois da descolonização, Portugal teve “intensas relações” com todos os estados da CPLP, muitos dos quais tinham relações com a União Soviética, que mantiveram depois com a Federação Russa
”Isso nunca impediu que Portugal estabelecesse cooperação com esses estados”, sublinhou.
A notícia do acordo com São Tomé e Príncipe surge numa altura em que decorre uma visita do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, à Rússia, durante a qual o chefe de Estado guineense garantiu ao homólogo russo, Vladimir Putin, que pode contar com a Guiné-Bissau “como aliado permanente”.
Sissoco Embaló encontra-se na Rússia como convidado para assistir às comemorações do Dia da Vitória.
As declarações de Embaló, numa conferência de imprensa com Putin, foram disponibilizadas pela presidência guineense.
Umaro Sissoco Embaló agradeceu a Putin “todo o apoio” que a Guiné-Bissau recebeu da antiga União Soviética, durante a luta armada pela independência, e salientou que essa contribuição é mais visível nas Forças Armadas.
O Presidente guineense instou Vladimir Putin a visitar a Guiné-Bissau assim que fizer um périplo por África e ainda apelou a que o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov visite Bissau.