Para a Madeira e para os madeirenses, o 25 de abril representou e representa um dos maiores saltos qualitativos que vivemos ao longo de 600 anos: foi a democracia instaurada pelos capitães que nos permitiu a tão ambicionada autonomia, trazendo esperança ao povo, que ao longo da sua história foi tão explorado e oprimido pelo colonialismo e pelo centralismo da metrópole.
Como bem disse Emanuel Rodrigues, deputado à Constituinte e primeiro presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, a autonomia foi a maior e a mais bonita conquista da revolução.
Por isso, é para nós uma data com um simbolismo extraordinário.
E se é para os que cá estão, é-o, igualmente, para a nossa imensa diáspora - um dos ativos mais importantes da nossa nação, mas que nem sempre nós, enquanto sociedade, sabemos valorizar e acarinhar como merece.
Parte importante da diáspora madeirense constituiu-se ao longo dos 48 anos que durou a ditadura: foram aos milhares os madeirenses que fugiram à miséria, à opressão e à guerra que o regime tinha para oferecer. E, porque marcados pela tirania, assinalam de forma efusiva a data que celebra a conquista da liberdade para todo o povo português.
Mas, passados 47 anos, também são muitos aqueles que nos fazem sentir a sua desilusão pelo estado a que chegámos. Esperavam mais dos que cá ficaram e que olham com descrédito para a justiça, a política ou a atividade económica, com especial enfoque para a banca. E têm boas razões para isso, infelizmente: há diversos casos recentes que revelam a incapacidade da justiça portuguesa em investigar convenientemente os crimes de colarinho branco, a corrupção, o enriquecimento ilícito, os financiamentos ilegais a partidos, o branqueamento de capitais, o tráfico de influências. Também foram muitos milhares de emigrantes que perderam milhões no BES, no Banif, no BPP. Sem que Portugal tenha encontrado forma de os compensar, como teria sido da mais elementar justiça. Isto leva a uma descrença na totalidade das instituições portuguesas - e não apenas nos partidos e nos políticos! - que faz crescer os movimentos populistas de direita e de esquerda, que também ganham ascendência na diáspora e que representam um perigo real para a democracia portuguesa. É frequente os discursos radicais ganharem adeptos também nas comunidades além-mar!
Felizmente, parece existir um consenso nacional que visa a alteração da lei da corrupção para dotar o sistema de justiça de melhores meios para a investigação destes crimes. Esse é um passo fundamental, para que os emigrantes voltem a olhar para este país como um país onde o crime não compensa. E é fundamental que a política dê o exemplo, que lidere, como tem de ser, este processo. De forma a que o nosso povo, residente ou emigrado, mantenha a confiança no país e esperança no futuro. Como, aliás, foi a promessa do 25 de abril e a sua maior mensagem: emancipação social, em liberdade e com igualdade, num estado de Direito. Saibamos construir Portugal.
PS - Os casos nebulosos em torno de Eduardo Cabrita vão-se acumulando. Cada um com enorme gravidade. Mas quando o chefe da Casa Civil do Presidente da República tem de explicar a um ministro da Administração Interna o que é um estado de Direito, esse ministro tem de cair. Para que não pareçamos, de vez, com qualquer ditadurazinha socialista da treta!
Parece que, afinal, não era o fascismo que aí vinha...