Uma família reconstituída é como um quebra-cabeças complexo. Cada peça tem a sua forma única e, juntas, formam uma imagem completa de companheirismo, resiliência e crescimento. Quando decidimos morar juntos, sabíamos que a convivência dos filhos dele com a minha iria levantar questões emocionais, logísticas e práticas. Estávamos certos de que, com calma, o novo normal seria agradável. Uma semana após essa decisão, enfrentámos um desafio que não poderíamos ter previsto: o confinamento devido à pandemia da COVID-19! Portanto, enquanto o número de divórcios disparava, lá estávamos nós em casa numa espécie de ‘Big Brother’ com 5 fantásticos concorrentes que, no fim, saíram todos vencedores. Foi o melhor que nos podia ter acontecido para desenvolver o respeito por todos e por cada um. Resistimos a uma pandemia sem nos descabelarmos uns aos outros (mesmo que lá de vez em quando tivesse apetecido).
Cometi um erro comum: querer ser a mãe da casa e criar logo um ambiente perfeito para nos unir. Queria evitar o conflito e garantir que todos se sentiam bem. Pressionava-me e martirizava-me com isso. Até que uma amiga, com mais experiência na matéria, alertou-me: ‘Quer tu queiras, quer não, serão sempre 3+2.’ Respirei de alívio. Essa perspetiva foi libertadora pois não invalida que sejamos 5, permite construir um ambiente de estima uns com os outros sem que cada um perca a sua identidade.
Pode passar pela cabeça algo como “porque é que me meti nisto? Então não era melhor estar sossegado no meu canto?” Por isso, o aviso: não se metam ‘nisto’ se for apenas para demonstrar ao mundo que conseguem manter uma relação duradoura. Todo o crescimento e adaptação que implica uma família reconstituída exige amor, tolerância, resistência e maturidade (muita maturidade!). Esta decisão tem implicação na nossa vida e na dos nossos filhos.
Não sabendo as voltas que a vida me reserva, deixo algumas lições valiosas que vou aprendendo com esta nossa família reconstituída:
- Devagar e certo: Não vale a pena entrar a matar e querer tudo harmonioso de uma só vez. Deem tempo para entenderem o que está prestes a acontecer e se integrarem;
- Conversas difíceis: como casal e também com os nossos filhos. Aceitar e permitir que os temas se repitam ao longo do tempo. Não façam de conta que não foi nada;
- Limites e respeito: estabelecer limites de intromissão nas finanças pessoais e na dinâmica da família alargada de cada um. Quase diria que, se não tem implicações com o dia a dia, e até funciona minimamente, não interfiram;
- Companheirismo: ao entrar nesta aventura, a sua importância aumenta. Ajuda se permitirmos que o outro exerça a sua parentalidade, com as competências e as ferramentas que tem;
- Aceitar o passado: foi ele que nos trouxe até aqui. É aproveitar essa bagagem e ser melhor no presente e futuro;
- Responsabilidades e papéis claros: para que haja respeito, bom ambiente e sentimento de justiça, todos devem colaborar com tarefas domésticas, mediante a sua idade e condição. Com o tempo, percebemos o que esperar de cada um;
- Criar momentos para: namorar, para cada um estar com os seus filhos e manter a ligação ‘original’ e para estarmos todos juntos;
- Numa situação limite, o mais importante são os nossos filhos.
Ter uma família intacta é diferente de ter uma família reconstituída? Sim, mas uma não é melhor do que a outra. É tomar diariamente a decisão de querer ficar e sentir-se feliz com isso.