MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Engenheiro

10/10/2024 08:00

No ano em que o Governo Regional, através da ARM vai investir quase quatro milhões de euros na Central Dessalinisadora do Porto Santo, faz sentido aprofundar um pouco da sua história e do seu papel determinante no progresso da ilha que serve. Recuando no tempo, quando ainda ninguém falava em alterações climáticas ou em períodos de seca extrema, já esta pequena ilha no meio do Atlântico e o seu povo conheciam bem os efeitos da escassez de água.

Os recursos hídricos do Porto Santo sempre foram escassos, limitando-se a algumas origens de água natural de baixos caudais. Nos anos setenta, estas origens já começavam a não ser suficientes para satisfazer as necessidades de água para consumo da população. Atendendo ao previsível aumento do fluxo turístico era urgente encontrar uma solução alternativa que satisfizesse as necessidades prementes. Além disso, estas origens naturais não garantiam a qualidade de água para consumo humano, pois esta apresentava-se a maioria das vezes demasiado mineralizada e salobra.

O Porto Santo além de parcos recursos hídricos, contava à data com um sistema elétrico ainda muito débil e intermitente o que inviabilizava completamente a montagem de uma central térmica de dessalinização. Dentro das diferentes opções de dessalinização, considerando os constrangimentos da insularidade, a ausência de fontes térmicas de calor da ilha e a fraca eletrificação da mesma, a escolha da osmose inversa, solução muito inovadora à data, era aquela que oferecia as melhores garantias em termos de consumo energético. E nestes termos, a 23 de maio de 1978 foi celebrado, entre o Governo Regional e a Firma Stork Werskspoor Water B.V., o contracto para o fornecimento e montagem de um dessalinizador com capacidade de 500 m³ por dia. A partir desta data o futuro da ilha estava traçado e a angústia histórica do povo do Porto Santo ficaria definitivamente ultrapassada.

Assim nasceu a Central Dessalinizadora do Porto Santo, uma das cinco primeiras unidades no mundo a utilizar a tecnologia de osmose inversa e a primeira em território europeu. Foi um longo caminho até aos dias de hoje, o esforço e a dedicação de todos os que nela trabalharam foram consideráveis e sempre no sentido do aumento da sua capacidade de produção e da sua eficiência, tanto hídrica como energética. Um trabalho abnegado de poucos ao serviço de muitos. Importa destacar as quatro galerias subterrâneas de captação de água salgada, uma particularidade desta infraestrutura. Estas estruturas de captação de água salgada, ficam localizadas na praia sob a camada rochosa semi-impermeável, os denominados calcarenitos. Estas captações de água do mar através de galeria permitem uma filtração natural da água, evitando-se os sistemas de pré-tratamento, normalmente associados a este tipo de instalações, que ocupam espaço e consomem energia e reagentes.

Na senda da melhoria contínua que tem norteado a gestão e exploração da central ao longo dos anos, depois da levada a cabo a reformulação da adução de água salgada das galerias 1 e 2, esta semana foi lançado o concurso público para a construção de uma quinta galeria de captação, que irá permitir um reforço do caudal de captação e um acréscimo de resiliência de todo o sistema. Estão igualmente em fase de contratualização os trabalhos de optimização de uma das unidades de osmose. Todas estas intervenções foram financiadas através do Plano de Recuperação e Resiliência, na Componente de Gestão Hídrica, “RE-C09-i03-RAM - Plano de Eficiência e Reforço Hídrico dos Sistemas de Abastecimento e Regadio da RAM”.

Haveria muito para dizer ainda sobre esta central, a visão e o pragmatismo que nortearam a sua construção deve permanecer como uma conquista e um desígnio de um povo habituado a muitas dificuldades, mas que nunca perdeu a esperança. Existem dois Porto Santos, o que subsistia antes da central dessalinizadora e o que nasceu depois da entrada em funcionamento desta infraestrutura. A ARM, os seus responsáveis e todos os seus dedicados quadros técnicos e operacionais vão continuar a trabalhar com o objectivo de melhorar a qualidade e a disponibilidade de água para o abastecimento público do Porto Santo, servindo a população e contribuindo activamente para o desenvolvimento desta bonita, mas seca e arenosa ilha.

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