O ano de 2017 trouxe uma nova dimensão ao meu percurso como pessoa preocupada com a comunidade e em fazer a diferença. Desde os 17 anos que era membro, primeiro do Rotaract de Sintra e depois do Rotary Clube do Funchal, do movimento rotário, mas há muito que me envolvia em ações que tivessem como objetivo melhorar a vida dos outros, contribuir para uma melhor compreensão de como encontrar equilíbrios onde se viviam conflitos. Em 2017, aceitei o desafio de Paulo Cafôfo para integrar a lista que concorria à Câmara do Funchal. O que fui aprendendo desde aí, com as pessoas, com o que li e com o que vi, deixaram claro que a política é uma forma essencial de dar dignidade ao indivíduo e que é essa dignidade individual que constrói a comunidade. Mas, é também a comunidade que deve permitir ao homem atingir o máximo das suas possibilidades e potencialidades: tem o dever de lhe consentir o acesso à habitação, à melhor educação, à saúde mais avançada, à vanguarda da ciência.
Foi neste percurso que aprendi o sentido mais profundo de autonomia: uma autonomia que parte das bases e não do topo, moral e ética, moderna, feita da independência individual, empoderadora e inclusiva, integral, institucional, mas também cívica e cultural. De facto, o enriquecimento da autonomia só se dá com o respeito dos direitos de todos, caso contrário, é apenas ilusória. É por isso que não podemos ter uma autonomia meia viva e meia morta: viva quando reclama, morta quando não sabe decidir; viva quando é panfleto político de um partido, morta quando não dá a cada indivíduo a possibilidade de se afirmar; viva quando clama vitória, morta quando obriga às costas curvadas e à mão estendida; viva quando protege alguns, morta quando deixa de fora tantos e os obriga a sair da sua terra.
Ainda neste percurso, aprendi que muitas vezes se julgam as pessoas pela naturalidade e não pela ação. E isso é pernicioso, porque conheci quem, vindo de fora, tem a capacidade de ver a Madeira no global nacional e internacional e como trazer inovação. Percebi o valor da contribuição das mulheres, único indicador de progresso não controverso de menor ou maior desenvolvimento de uma região ou país: é internacionalmente aceite que a conquista da emancipação feminina, da sua participação na vida ativa e governativa numa sociedade em que as mulheres durante séculos habitaram um lugar menor numa paisagem cultural e social modelada no tempo, na linguagem e no poder pela perspetiva masculina, é fulcral para uma sociedade que preza os direitos humanos. Compreendi a importância do poder local, da resiliência e da vontade jovem, renovada de fazer. E foi por isso que aceitei ser mandatária da lista do PS às legislativas de 2024. Por ver em cada um dos que a constituem a personificação do que fui aprendendo, dando valor à política como motor positivo da sociedade.
As leis das regiões autónomas foram feitas na Europa pelos socialistas, no panorama do final da Segunda Grande Guerra, quando havia necessidade de dar liberdade aos povos para se afirmarem nas suas especificidades. Era uma autonomia concebida em estreita relação com os direitos humanos e não como a que se vive hoje: uma espécie de autonomicofagia, digerida por alguns de apenas uma força política que a aprisionam dentro do seu corpo. Alguns, porque não são todos: haverá ainda gente social e democrata que compreende que a autonomia vai das veredas aos poios, das costas feitas de hotéis às zonas altas e que se preocupa com o abandono, a exclusão, a população que quer crescer, consciente das suas fraquezas e forças. Que percebe que a autonomia não pode ser anti-autonomia, a que protege só os seus, na cúpula, e que tem de ser um enorme “Nós”.
Hoje, temos um governo “ancien-régime”: centralizado, absolutista, soberanista, de famílias que governam e controlam, mantendo-se unidas nos privilégios locais e alimentando-se das disparidades crónicas. Por isso, temem-se eleições, a participação cívica e colocam até em causa o futuro do seu próprio partido apenas para se defenderem. E isso é mau para uma sociedade democrática, é um exemplo perverso e faz a população desconfiar de um regime de liberdade, optando por falaciosas limpezas da política. Os socialistas não têm medo da extrema-direita fascista, não engordam as suas listas, e o PPD também não o deveria ter se se comportasse como um partido que coloca o discernimento do povo no âmago das suas decisões. O mesmo vale para o PAN, apanhado numa triste Pantomima de poder.