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Artigo de Opinião

Psiquiatra

23/02/2024 08:00

Cada vez se conhece melhor as consequências das nossas emoções, ou melhor, cada vez conhecemos melhor os meios pelos quais as nossas emoções afetam o nosso corpo. Ao longo da história da humanidade, há diferentes referências para as consequências das emoções na nossa saúde, mas com o desenvolvimento da medicina moderna, alguns destes conhecimentos foram abandonados, como se fossem apenas relatos loucos do passado.

Há várias décadas que se realizaram os primeiros estudos sobre as consequências das emoções na nossa saúde. O estudo que partilho sempre que falo do tema, é o estudo realizado em estudantes universitários. Este estudo descobriu que nas épocas de exames há uma diferença significativa do número de estudantes doentes em comparação com o resto do ano. Foi uma conclusão simples, mas permitiu começar a compreender-se que existe uma relação bidirecional do sistema nervoso com o sistema imunitário. Era já conhecido que nas febres altas e outras doenças, o nosso cérebro sofre, mesmo não estando diretamente envolvido na doença. Mas o contrário, que o resto do corpo sofre, quando o cérebro está a sofrer, não era conhecido.

Ao longo das décadas seguintes foram-se encontrando outras ligações entre as nossas emoções e doenças autoimunes. Depois começou a estudar-se a depressão em relação a muitas outras doenças e foi possível perceber que a depressão agravava a recuperação de enfartes agudos do miocárdio (coração), de acidentes vasculares cerebrais AVCs e de neoplasias. Sim, até no tratamento / recuperação dos assustadores cancros, as nossas emoções têm a sua importância. Se surge o pensamento que então é melhor não termos emoções, também existe pelo menos um estudo que associa a supressão das emoções a um aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares e neoplasias.

Nesse sentido, emoções como a raiva são duplamente infelizes. São infelizes pelas razões que nos fazem senti-las e são infelizes pelas consequências que nos causam à nossa saúde. Mas se não podemos suprimir as emoções, como é que podemos evitar as suas consequências?

Existem várias formas, mas todas elas envolvem o processamento do sofrimento ou alteração da forma como vemos a vida. Imagine um dique. O dique aguenta até um limite de água. A partir dessa quantidade a água vai passar por cima e possivelmente destruir o dique. Mas podemos colocar passagens à água para quando subir muito, poder sair, sem destruir o dique. Da mesma forma, todas as estratégias de processamento estão associadas a criarmos formas mais fáceis das nossas emoções se dissiparem. Mas as distrações também. Estas são importantes para sobrevivermos, mas não são a forma de diminuir o sofrimento a longo prazo. As distrações são fugas e se fugirmos demasiado tempo, deixamos de saber quem somos e ficamos vazios por dentro. É assim que as pessoas acabam dependentes. De drogas, de álcool, de medicamentos, de jogo, de pessoas...

O processamento das emoções é fundamental para ultrapassarmos os problemas e não nos perdermos nas distrações ou no sofrimento do problema. Uma das mais importantes é a partilha profunda do que passámos com alguém que é capaz de dar a confiança, o espaço, o tempo e a orientação necessária. Não só é bom termos alguém de confiança pelos motivos mais fáceis de compreender, como também pela forma biológica como se alteram as nossas hormonas e a nossa saúde. A nossa saúde aumenta quando sentimos o respeito, carinho e proteção de outro ser humano, quando amamos e somos amados.

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