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Artigo de Opinião

Subdiretor JM

21/09/2024 08:05

A Justiça não é nenhum inferno. Nem os seus agentes uma espécie de demónios. A Justiça é absolutamente necessária para garantir o equilíbrio e a ordem social. E tem regras que deveriam não só assegurar a melhor Justiça para todos, como pelo menos condicionar a aparição dos intitulados justiceiros das redes.

Atenção. Nada contra quem usa da palavra com convicção. Por quem sempre deu a cara por ideais ao contrário dos que, ressabiadamente, procuram aproveitar com afinco eventuais fissuras e fragilidades para surfar a onda demagógica à custa dos outros, mesmo que desprovidos de fundamentação legal para o efeito.

Esses, os tais vingadores, são fáceis de identificar, porque caminham silenciosamente durante décadas, até ao dia em que acabam marginalizados por um pseudosistema que sempre integraram. A partir daí, começam as conspirações... que nunca mereceram sequer um pio.

É evidente que a atuação da Justiça não pode ser influenciada por estratos sociais ou juízos de valor antecipados. Não se rege pelos (in)justos da praça pública. Há direitos e deveres para arguidos, juízes e advogados.

Mas, não raras vezes, ser ou não considerado culpado é, muitas vezes, um pequeno pormenor, já que o julgamento popular termina à primeira acusação/investigação.

Dizem os mais experientes que a Justiça do povo é bem mais pesada do que a exercida pelos tribunais. Não prende ninguém, é verdade, mas pode hostilizar para a vida até os que são julgados inocentes.

Na praça pública, os donos da verdade atropelam-se a uma velocidade estonteante. São tantos que as verdades também mudam ao ritmo do vento, claro. Convém, por isso, perceber para que lado está a ventania para não se deixar enganar.

Os populistas restringem todas as liberdades que vão contra as suas crenças. Se não é culpado, é porque está feito com isto ou aquilo. Se é, pois bem, foi enganado por este ou aquele. Claro que ninguém agrada a todos. Nem a Justiça pode procurar esse conforto ou ânimo.

Tem, isso sim, de se distanciar de justiceiros e vingadores, que tudo julgam, tudo sabem, tudo criticam, tudo condenam de forma sumária mesmo sem conhecimento de quaisquer factos. Até os inventam. Basta, por vezes, que um cidadão surja algemado que é culpado de lesa-pátria.

Nesse sentido, a liberdade informativa não devia ser utilizada como forma de servir os interesses de quem se alimenta dos tropeções do vizinho. A comunicação voyeurista, que serve apenas para potenciar conspirações e maledicências, que não acrescenta, que só expõe de forma gratuita quem é chamado a prestar contas à sociedade, vende no imediato. É verdade.

Mas o dever informativo acarreta obrigações. Nem que sejam pedagógicas. Mostrar só porque se pode não é informar. Não devia ser. A informação é factual, acrescenta, não limita o pensamento. Isso é voyeurismo ou pura coscuvilhice.

O circo mediático que potencia condenações sumárias antes dos julgamentos serve a quem? À Justiça não será certamente. Mas a Justiça não pode fugir à responsabilidade de patrocinar uma espécie de desfile mediático que obriga arguidos a contornar carros e passeios que satisfazem o olhar de curiosos.

Tal como em todas as áreas de atividade, parece claro que a mudança dos tempos obriga a alterar procedimentos que deixaram de fazer sentido nos dias de hoje. Se alguma vez o fizeram... Porque a Justiça não é palco e devia ser uma casa de bem com a devida reserva.

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