A União Europeia (UE) está perante o maior desafio geoestratégico pós-Guerra Fria, enquanto os EUA e a República Popular da China redefinem as suas estratégias industriais e económicas, a UE permanece paralisada entre debates regulatórios e uma fragmentação geopolítica que comprometem a sua existência socioeconómica. No entanto, como apontado pelo relatório The Future of European Competitiveness, liderado pelo economista Mario Draghi, ex-Presidente do Banco Central Europeu, a resposta para evitar a “morte” económica e social da UE é a implementação urgente e integral das medidas apresentadas no seu relatório.
O cerne da questão europeia é simples: não há redistribuição ou Estado Social sem produção, inovação e crescimento económico. O modelo de vida europeu, tão admirado pelo mundo, depende de uma base económica robusta que permita a criação de riqueza, geração de emprego e investimentos em políticas sociais. Sem um foco renovado na competitividade industrial e na inovação tecnológica (e acrescentaria também na competitividade fiscal), o continente será superado, não apenas pelos EUA, que sob a liderança do Presidente-Eleito Donald Trump (e potencialmente impulsionada pelo completo domínio do Partido Republicano do Congresso dos EUA), prometem um retorno ao protecionismo económico, mas também pela República Popular da China, cuja política intervencionista estatal e investimentos externos continuam a dominar setores estratégicos globais, restaurando o seu legítimo peso histórico na economia global.
O Plano Draghi propõe um aumento substancial no investimento público e privado, representando cerca de 4,5% do PIB da UE. Este é um passo crucial para reverter décadas de desindustrialização, criar um verdadeiro mercado único de capitais, superando a fragmentação regulatória, e reerguer setores estratégicos como inteligência artificial, biotecnologia e energias renováveis. No entanto, a implementação deste plano exige mais do que capital: requer uma verdadeira transformação na maneira como a UE, a nível político, pensa e age. A UE tem, por isso, abandonar o medo de apoiar “campeões europeus” e adotar uma estratégia coordenada que incentive empresas capazes de competir globalmente, especialmente em setores tecnológicos sensíveis. Isto inclui a revisão de regras de concorrência (incluindo as relacionadas com a fiscalidade) que, em nome do mercado livre, têm limitado a consolidação de empresas europeias frente a concorrentes chineses e americanos na economia global.
A transição energética deve ser priorizada como um eixo estratégico, não apenas ambiental. A UE não pode depender de fontes externas para suprir suas necessidades energéticas e garantir baixos custos de produção, sendo por isso necessárias reformas no mercado de energia e investimentos em infraestruturas. Por seu turno, a autonomia estratégica não é uma opção; é uma necessidade. Tal significa reduzir dependências em setores críticos, desde semicondutores até metais raros, e fortalecer alianças comerciais que protejam os interesses europeus.
A implementação do Plano Draghi não é apenas uma questão económica, mas de sobrevivência política e social. Se a UE continuar inerte, será relegada à irrelevância global, incapaz de sustentar o seu modelo de Estado Social que define a sua identidade. Assim a escolha é clara: ação imediata ou obsolescência, caso contrário a morte da Europa não será um evento súbito, mas um lento definhar provocado pela sua própria inação.