Infelizmente, mais uma vez, a nossa ilha da Madeira é fustigada por incêndios que destroem a sua paisagem e põem em risco habitações e populações. É o resultado das alterações climáticas e das práticas de exploração, e mesmo agora há mega incêndios que perturbam o planeta, como os na Grécia, EUA e Austrália.
De facto, a nossa ilha, com sua orografia deslumbrante e paisagens montanhosas, enfrenta um desafio constante e devastador que são os incêndios florestais. Este fenómeno, exacerbado pelas condições climáticas e geográficas únicas da ilha, representa uma ameaça significativa tanto para a população quanto para os ecossistemas locais.
A Madeira é caracterizada por um terreno montanhoso e acidentado, com picos elevados, vales profundos e encostas íngremes. Esta topografia não só dificulta o acesso e a mobilidade das equipas de combate a incêndios, como também facilita a propagação rápida do fogo. A vegetação densa e áreas intensas de matagal e eucaliptos, adiciona combustível natural, tornando os incêndios ainda mais intensos e difíceis de controlar.
Os bombeiros que operam nas zonas altas da Madeira enfrentam inúmeros desafios. O acesso difícil devido à topografia acidentada significa que muitas vezes dependem de trilhos estreitos e veículos todo-terreno para chegar às áreas afetadas. Nestas condições, os meios de combate aéreo são essenciais para lançar água ou retardantes de fogo sobre as chamas. No entanto, a utilização destes recursos é limitada pela disponibilidade e pelo custo elevado, bem como pelas condições climatéricas que enfrentam, não sendo a panaceia para todos os males.
A comunicação e a coordenação são então cruciais. A estratégia inicial de combate aos incêndios é, estatisticamente, o momento mais importante para o controlo principal de uma deflagração. A escolha de intervenção, a coordenação entre as equipas terrestres e aéreas, a gestão do combustível para conter a propagação do fogo, são determinantes no curso do desenvolvimento do incêndio. No entanto, estas medidas são muitas vezes insuficientes diante da magnitude do incêndio.
Diante deste cenário, é imperativo reforçar a prevenção e a educação da população. E isto não custa repetir as vezes que forem necessárias. Campanhas de sensibilização devem ser intensificadas para informar os residentes sobre práticas seguras e medidas preventivas. A população deve ser educada sobre a importância de não realizar queimadas ilegais, de manter as áreas ao redor das propriedades limpas de vegetação seca e de reportar imediatamente qualquer sinal de fogo.
As medidas punitivas para os responsáveis por fogo posto devem ser severamente agravadas. A impunidade ou a punição branda envia uma mensagem errada e não dissuade os incendiários. Legislações mais rígidas e a aplicação rigorosa da lei são necessárias para prevenir ações criminosas que colocam em risco vidas humanas, propriedades e ecossistemas inteiros.
Além disso, é crucial o reforço dos meios de combate especializados. Desde logo, até para evitar intervenções díspares conforme o concelho, considerar a hipótese de convergir os corpos de bombeiros existentes na Região numa única cooperação com uma linha de comando única. Investir em equipamento moderno, como veículos todo-terreno, drones equipados com câmaras térmicas e sistemas de comunicação avançados, pode fazer uma diferença significativa na eficiência do combate aos incêndios. A formação contínua e especializada dos bombeiros é igualmente vital para garantir que estejam preparados para enfrentar os desafios específicos da Madeira.
É fundamental também destacar que, por muito que a vontade seja apontar o dedo e arranjar responsáveis, enquanto os incêndios estão em curso, a política e as politiquices devem ser deixadas de lado. As acusações e a busca por responsáveis devem ser feitas nos momentos oportunos, longe das crises imediatas. O foco deve estar na resolução rápida e eficaz da emergência, protegendo vidas e minimizando danos. A politização de tragédias pode atrasar respostas críticas e desviar recursos e atenções de onde são mais necessários, criando atritos e barulho num tempo e local onde só uma voz deve imperar.
Neste momento, enquanto o fogo ainda alastra na Madeira, é crucial unir esforços e concentrar-se no combate ao incêndio. A coordenação entre autoridades locais, bombeiros e a comunidade é essencial. A solidariedade e a colaboração são as ferramentas mais poderosas em tempos de crise. Está em causa a proteção da Madeira e dos seus habitantes. Para além de ser o principal cartaz da nossa ilha, a sua natureza exuberante merece ser preservada e protegida para as futuras gerações, e isso só será possível através de um compromisso sério e contínuo com estas medidas e muitas outras que se entendam essenciais.