Para se conseguir atrasar a sua disseminação e ganhar tempo para nos prepararmos para responder às necessidades sem que o sistema de saúde entrasse em colapso suspenderam-se várias atividades. Além das mais ligadas ao turismo, fecharam-se escolas, recorreu-se ao teletrabalho quando possível, ao lay-off quando não foi e, infelizmente, ao encerramento definitivo da atividade, com todos os custos sociais que acarretou.
Em campo ficou a "linha da frente." Praticamente desde o início do primeiro estado de emergência, a maioria da população reconheceu, agradeceu e aplaudiu o papel determinante dos homens e mulheres nessa primeira linha da resposta dos sistemas de saúde. Para além de profissionais de saúde, justamente promovidos à categoria de heróis, também as forças de segurança, bombeiros ou professores têm visto o seu papel valorizado com o anúncio de complementos salariais ou com a prioridade na vacinação que, mais do que pelo valor pecuniário, traduzem o reconhecimento simbólico desse trabalho na linha da frente.
Há, no entanto, uma outra imensa massa de gente que, em nome do bem comum, nunca deixou de estar nessa primeira linha de exposição ao vírus. Gente que em todos os estados de emergência e de calamidade esteve sempre no seu posto de trabalho garantindo, apesar de tudo, alguma normalidade ao longo de todo este ano. Falo de quem trabalha nas cadeias de distribuição alimentar e dos supermercados, com destaque para quem está mais exposto ao contacto com o público (por exemplo nas caixas), de quem trabalha na distribuição postal, de quem trabalha nas instituições de solidariedade social públicas e privadas, de quem trabalha nas autarquias que apoiaram os seus habitantes, etc...
Se é preciso coragem política (e é) para decidir quais os serviços abertos, ou como investir no apoio às populações, não podemos deixar de realçar a bravura com que estes homens e estas mulheres, num cenário de grande imprevisibilidade e receio, pôs de parte a natural preocupação com a sua própria segurança para cumprir a sua missão de serviço público.
Deixo aqui um exemplo concreto. Quando em março de 2020 se verificou o primeiro confinamento em ambiente de grande ansiedade, a Câmara Municipal do Funchal procurou minimizar um pouco essa ansiedade com o projeto "Livros Pedidos", que consistiu em oferecer e entregar gratuitamente em moradas do Funcha livros do seu espólio em armazém. Para executar essa tarefa contou com a dedicação dos funcionários da Divisão de Juventude, Desporto e Envelhecimento Ativo da Câmara Municipal do Funchal (DJDEA) que, com a colaboração com funcionários da Empresa Municipal Sociohabitafunchal distribuíram, porta-a-porta, quase 3600 livros entre 24 de março e 25 de julho por moradores nas 10 freguesias do Funchal.
Terminado esse projeto, os mesmos funcionários da DJDEA assumiram a responsabilidade de distribuir os cabazes alimentares atribuídos no contexto do projeto "Funchal, Cabaz Vital" (que ainda decorre), e que até agora já se traduziu na entrega de 78 toneladas de alimentos, repartidos por 6100 cabazes entregues a quase 2100 agregados familiares, compreendendo mais de 20150 munícipes.
Como estes há milhares de cidadãos e cidadãs, gente comum, sem nome sonante, mas não menos determinante para que possamos atravessar este período difícil da nossa história. Não é de esperar que venham a dar o nome a qualquer praça, rua, beco ou travessa, mas estou certo de que me perdoarão que, em jeito de tributo à bravura de todas e todos os comuns, saiam por um dia do anonimato:
Obrigado, Carlos Duarte, Fernando Gama, Hugo Mota, João Arnaldo, Ricardo António e Rui Nelson, funcionários da DJDEA da CMF, a tanta outra gente anónima, pelo serviço que continuam a prestar!