Se o país insiste na alucinação, não são 7, 8 ou 9 escândalos, em pouco menos de um ano, que desmotivam as hostes ou que abalam a maioria absoluta do PS, o verdadeiro cheque com cobertura integral.
Mas é óbvio que os sucessivos dramas (ou peças humorísticas, consoante a perspectiva) têm esse denominador comum que é o Partido Socialista associado à conivência de muitos dos seus distintos dirigentes e militantes. Não se estranhe: se a agremiação já nos faliu três vezes e tem na família um conjunto notável de criminosos de colarinho branco, é provável que resista, como se aguenta um almoço de difícil digestão, às dez pragas do Egipto. O dilema é que a somar às vetustas qualidades, a seita ainda consegue acumular as quedas nos indicadores europeus e os delírios de visionários pueris que terminam, sem dó nem piedade, em buracos entre duas e cem vezes maiores que o suposto. As demissões tardias podem abafar o ruído e proteger o chefe, mas não escondem a fragilidade das acções e dos membros do governo. Ou o desastre que é navegar sem rumo conhecido.
Sempre presumimos que quem sabe da vida do convento, é quem vive lá dentro. Só que tal como muitos dos proeminentes nazis nos julgamentos de Nuremberga, quando se revelaram os sarilhos, todos eles ou cumpriam ordens ou não sabiam de nada. É igual no reino tuga. Perante novo escândalo, ninguém conhecia a letra da música ou, presumo, o nome da envolvida. Até ser impossível negar. Porque antes só Deus pareceu ser testemunha única do novelo e dos milhares de sequazes socialistas que tratam da vidinha enquanto o povo esperneia e agradece os cheques. É cada um por si. E a falta de vergonha por todos. Que se usem empresas públicas intervencionadas, secretarias de Estado, negócios de ocasião ou favores políticos é pormenor que ilustra a plasticidade de certas colunas vertebrais.
Tudo isto é ainda muito parecido com os tempos gloriosos de José Sócrates. Também nessa época a criatura governava enquanto recolhia avultadas mais-valias e colecções de valiosas fotocópias geralmente apanhadas pelo inexcedível motorista. Como curiosidade extra, também aí nenhum socialista viu, ouviu, cheirou e, aposto, sentiu as maroscas criteriosas e imaginativas, ou os indícios mínimos que fariam corar de vergonha qualquer cidadão decente. Já a vigarice foi tão bem feita e escamoteada que vários deles terminaram acomodados na corte de Costa, ele próprio um outrora protegido do ilustre coleccionador de garrafas de vinho (ou de fotocópias, se preferir). Sem pestanejar, é evidente que todos eles sabiam o suficiente para perceber que lhes convinha saber (ou fingir saber) o menos possível. Por ora, são mais uns delitos quase perfeitos. E quase sem culpados.
Perante as evidências, como é possível que depois de tantos e tantos casos, o socialismo continue a ser rei ou dirigente máximo deste circo? Para muito boa gente, isto parece um enigma ou um enunciado sem solução. Mas, na verdade, não é. E por dois motivos principais.
Primeiro, porque vivemos numa tautologia, num pleonasmo perfunctório socialista, fundido num género de xenofilia maldita que os portugueses nutrem pela casta que nos destrói e empurra para baixo. Tudo nela, na casta socialista, está esgotado, é caótico, é perdição. Tudo nela é declínio, solidão, depravação. Tudo nela é redemoinho que suga os recursos, a vontade, a juventude, o pouco dinheiro que há, as ideias, as energias. É a camisa-de-forças que coarcta ou impede os movimentos.
E, segundo, porque para os socialistas o governo não é um conceito, é literalmente um lugar. Um lugar que se usa e abusa, onde se enriquece, onde se forjam esquemas, conluios e consanguinidades; um lugar que se usa como estação elevatória (ou preparatória) e onde se albergam membros poderosos da quadrilha e alguma arraia-miúda para garantir uma máquina viciada e um aparelho de Estado moribundo, defenestrado, obsoleto e, claro, deprimido. É o manicómio de onde os mais pobres não conseguem fugir.