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Artigo de Opinião

1/05/2023 08:00

Na realidade, e temos de dizer as coisas como elas são, o Marítimo está nesta posição, primeiro e antes que tudo, por culpa própria. São várias as razões para o presente desfecho e todas elas relacionadas com o trabalho desta direção e da SAD que iniciou a época. E a principal razão, chamemos-lhe o pecado original, a péssima preparação da presente temporada.

O Marítimo praticamente assegurou a permanência na época passada após a vitória sobre o Boavista, isto em 16 de abril de 2022. A SAD de então, liderada por João Luís, teve tempo de sobra para preparar a nova temporada, cujo objetivo passaria por afastar o Marítimo daquilo que tinha sido o passado recente de lutar pela permanência. No final da temporada saíram jogadores importantes no onze habitual, como Paulo Vitor, Rossi, Guitane ou Alipour, e o sentimento é que o plantel tinha de ser reforçado, não só para colmatar as saídas, mas também para dar mais qualidade à equipa face às debilidades que tinha demonstrado ao longo do campeonato. No entanto, a maioria das contratações chegaram já com o campeonato a decorrer. No estágio de pré-temporada veio João Afonso, Brito e Lucho Vega. Na véspera do primeiro jogo chegou Trmal, Ramirez e Pablo Moreno. Na semana seguinte, Zarzana. No encerramento do mercado de agosto chegam Sonora, Gonçalo Cardoso, Catamo, e Percy Liza. Alguns com lesões que os impediram de ser solução imediata. E, como sabemos, 6 já tiveram guia de marcha.

O problema é que no futebol já está tudo inventado. A consequência deste novo modelo, imposto como a "última Coca-Cola no deserto", esteve no campo. Um onze de suplentes do ano transato iniciou as 3 primeiras jornadas. Foram 8 derrotas consecutivas. No reinício do campeonato após a interrupção para o Mundial, em 23 de dezembro, frente ao Rio Ave, já com José Gomes ao leme, o Marítimo apresentava 9 derrotas, 3 empates e apenas 1 vitória. A isto somava-se a eliminação da Taça de Portugal frente ao Mafra, e as 3 derrotas na fase de grupos da Taça da Liga. Primeiro com Vasco Seabra e depois com João Henriques.

A chegada de José Gomes, juntamente com alguns dos reforços introduzidos na abertura de mercado em janeiro, trouxe indiscutivelmente mais qualidade ao plantel, que ficou bem patenteada num (e único) ciclo positivo, onde o Marítimo regista 7 pontos em quatro jogos. Porém, a verdade é que a ida mercado de janeiro não resolveu todos os problemas. A ausência de um trinco de raiz, com rotinas de lugar, não foi suprimida e a equipa continua a se ressentir na sua organização defensiva, bem patente naquilo que é pecúlio de golos sofridos: 56 só na liga, a pior defesa do campeonato. Acresce os erros individuais que a linha defensiva vai cometendo, e a ausência de um homem de área (para mais com a dispensa de Joel Tagueu), e não há equipa que resista.

Acontece que tudo isto é expresso em resultados negativos. Nas horrendas prestações da equipa fora de portas, onde conquistou apenas 5 pontos em 42 possíveis. Nos mais que muitos jogos que permitiu os adversários virar resultados e ver os pontos a fugir, pontos esses que hoje fariam toda a diferença.

Poderia continuar, mas impõe-se a pergunta: 20 derrotas em 30 jogos e 56 golos sofridos na Liga são obra da tal mão invisível? A incapacidade de acabar um jogo com zero golos sofridos é da mão invisível? Tanto desperdício à frente da baliza é culpa da mão invisível?...

Não quero com isto dizer que o peso da uma má arbitragem não influencia. Porque o faz. O lamentável caso com o Casa Pia, a arbitragem ardilosa deste fim-de-semana, são lamentáveis, bem exemplificativas daquilo que é a arbitragem portuguesa. Porém, a verdade mais dura e crua, é que o Marítimo se colocou a jeito. E infelizmente vai colher os frutos que plantou.

Vai valendo esta incrível moldura humana. É o que torna este clube grande. Porque tudo o resto tem sido de clube pequeno.

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