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Artigo de Opinião

Médica Veterinária

27/10/2022 08:00

Já muito foi divulgado por esta e outras instituições sobre os efeitos de abstinência, e baixa de produtividade e desempenho, da saúde mental para o trabalho e o seu inverso, o quanto o trabalho pode ser, em si, a causa de depressões e de ansiedade levando à perda de milhares (milhões) de dias de trabalho, e a perdas económicas evidentes ao nível global, além de "desigualdade e discriminação social". E neste último contexto, estão implicadas não só exigências e horários pesados de trabalho, mas também outros fatores que geram mal-estar e um ambiente de carga negativa, onde cabem o assédio moral, e as chefias tóxicas, o denominado "mobbing" que se encerra de uma enorme carga de violência psicológica.

Nestes dois documentos da OMS, recomenda-se mesmo que os responsáveis e gestores laborais sejam formados, sensibilizados e "treinados" para a prevenção do stress nos locais de trabalho, por forma a evitar ao máximo o sofrimento dos trabalhadores, e consequentes transtornos mentais - em 2019, 15% dos adultos em fase ativa, sofriam de doença mental, de acordo com este organismo de saúde.

Mas este, é ainda um tema tabu nos locais de trabalho e não é só nas pequenas localidades. Recentemente, soube de uma situação na grande Lisboa, em que um grande organismo público contratualizou um psicólogo - isto para um universo de cerca de 500 trabalhadores... Não obstante ter sido um passo positivo, mesmo a pecar pela desproporção notória, o que mais ressaltou foi, por um lado, o descaso das hierarquias com a iniciativa e, por outro, a relutância de muitos funcionários à presença deste profissional. Já decorreram quase dois meses e este ainda não foi procurado por ninguém para assistência nem reuniu com os responsáveis para, por exemplo, se delinear um programa de prevenção e suporte aos funcionários da empresa. E falamos de uma entidade onde a pressão e sobrecarga de trabalho são imensas, onde a insatisfação e as baixas médicas se fazem sentir, e onde a mobilidade é rodopiante. Ou seja, há ainda muito para quebrar na barreira do tabu que é, ainda hoje, a saúde mental nas sociedades e locais de trabalho.

Nos documentos enunciados - que merecem uma leitura atenta da generalidade da população, mas sobretudo dos empregadores (públicos e privados), agentes políticos (que resistem a aumentar o investimento público na saúde mental) e agentes da saúde - inscrevem-se também recomendações para que os trabalhadores atingidos por problemas de saúde mental sejam apoiados por intervenções que lhes permitam o retorno ao trabalho, acomodando as suas necessidades particulares, ou seja "intervenções de saúde e humanitárias voltadas para a proteção dos trabalhadores".

Passamos a maior parte da nossa vida no trabalho, pelo que é fundamental que se criem "culturas de trabalho positivas" com um ambiente "seguro e saudável" em que todos os trabalhadores se sintam acolhidos e apoiados, sobretudo os que padecem de algum transtorno mental.

Sobretudo, que se torne o trabalho num fator de proteção e de promoção de saúde mental e nunca o contrário.

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