A alucinação da pátria tem responsáveis identificados. Por um lado, o Presidente da República que com a fome de aparecer se enterra quotidianamente numa certa irrelevância. Por outro lado, o primeiro-ministro, o obreiro de parte do sarilho em que estamos metidos, apesar da fama de grande timoneiro. Sim, há gente que reconhece, num e noutro, a "habilidade" política inata dos sobreviventes. Outros, contudo, vêem-lhes a tendência para um certo malabarismo e revisionismo declarativo e político, mais consentâneo com a realidade. Aliás, Marcelo fez-se da inteligência, do cinismo e de manjares imaginários até ao topo. Já Costa foi mais formiga e oportunista até conseguir usurpar o poder. Os dois andam agora muito contentes a vender comida estragada, que é o mesmo que dizer, um Orçamento do Estado quase todo fora das circunstâncias. Não os comove.
Por sua vez, os portugueses parecem-me mais traumatizados por sentirem o dinheiro a evaporar-se dos bolsos sem esforço, do que felizes com a farsa em exibição. Porém, são bastantes os que se deixam levar pelo talento de Costa que, seguro numa maioria absoluta, destrói o futuro das novas gerações, enquanto a quadrilha à sua volta vai tratando da vidinha. E se meia dúzia de escândalos a abrir não afligiram ninguém, o mesmo foi igual quando no Conselho de Ministros a consanguinidade era lei e condição e havia gente envolvida em artimanhas e esquemas só possíveis em Estados socialistas ou em Estados dominados por socialistas ou em Estados com socialistas inimputáveis. Tudo sem consequência de maior.
Quando 7 anos (ou 84 meses, ou 2555 dias, ou 61320 horas) depois, o 1º Ministro continua a ir à Assembleia da República pôr a culpa da extinção dos dinossauros no PSD e no Passos Coelho, isto significa que daqui por mais 4 anos (ou 48 meses, ou 1440 dias, ou 34560 horas), vai continuar a insistir na simplicidade do bitaite e de quem se alimenta dele. Com o debate na casa da democracia a resvalar para a sarjeta e a briga de bordel, Costa assume que o novo objectivo, depois da obrigatória eleição de Santos Silva para presidente daquilo que agora ele quer transformar em tasca, é erodir e vilipendiar o que ainda sobrar de dignidade. Certo é que, com o Presidente no bolso e a Assembleia domesticada, a excursão se anuncia triunfante, e quem não concorda com ela é um André Ventura em potência ou, quiçá, um Hitler, em dose moderada, mais envergonhado. O portefólio não tem fim. Tal qual a mistela argumentativa usada de propósito para tentar fazer dançar os ovos com as pedras.
Então, imbuído pela sua própria sapiência política, magnificamente expressa num português sempre impecável, escorreito e incorrigível, o primeiro-ministro hoje ri-se com vontade dos deputados que o deviam escrutinar, das patranhas que enfia nos ouvidos de todos, e dos tolos caídos na esparrela. Já o Presidente da República e o universo socialista aplaudem-no, exultam-no e riem-se com ele. Presumo que lhe vejam piada. Ou então é porque adivinham chuva.
Lindas figuras
O orçamento do Estado, como está, não serve a Madeira porque não serve os interesses da sua população. Ainda assim, não se trata apenas da discriminação evidente entre filhos e enteados (que já nos negou mais de mil milhões de euros), é também consequência da demissão das funções soberanas do Estado a que não nos devíamos habituar. À equação junta-se a letra morta constitucional e os artigos por cumprir que vão das ligações marítimas que não existem, aos serviços de segurança que se degradam ou às coisas simples como a reposição do porte pago, o pagamento das dívidas acumuladas nos subsistemas da saúde, a qualidade dos serviços do Estado, os programas nacionais variados e inacessíveis ou o ressarcir pela dívida produzida pelas centenas de anos de exploração colonial. Tudo oculto com alacridade por indivíduos que deambulam a pedir o voto, qual jograis enviados do Reino, desavergonhados e sem nenhum siso. Fixados numa obsessão, e manietados pela quinta coluna, nunca perceberam o fundamental: o colaboracionismo é uma ideia que geralmente termina mal. Se esta gente mandasse por cinco minutos, a Madeira passava, num fósforo, de Região Autónoma a Direcção-Geral onde seria obrigatório pedir licença para falar ou tirar senha para ser atendido. Todavia, é impagável ver os socialistas desdobrados nas rádios, nos jornais, na televisão, no parlamento e, calculo, também nos cafés, em casa, nos centros comerciais e onde calha, a vender a banha de cobra do orçamento, um paliativo à socialista que é péssimo, curto, desfasado, tímido e, sobretudo, injusto. Que lindas figuras.