Ainda que muito jovem recordo-me dos tempos da revolução que nos trouxe a democracia em primeiro lugar com a liberdade e depois o desenvolvimento. No caso da Madeira o 25 de abril trouxe-nos também autonomia.
Neste processo começou a existir o que até aí não existia: a possibilidade de escolher de forma livre quem nos governa para as diferentes estruturas de poder.
As eleições nos primeiros tempos eram muito participadas. Era novidade. Quando o povo se apercebeu que tinha nas suas mãos a escolha de quem governa fosse para nível de poder fosse, não a quis desperdiçar.
A atividade política/partidária era intensa. Os partidos multiplicavam-se sobretudo em comícios para fazer passar a mensagem. Os adros das igrejas eram palcos privilegiados para essas acções de campanha. Era ali que facilmente se encontrava o povo. Tudo funcionava em função da hora das missas. Os partidos faziam tudo para garantir o lugar. Até havia uma espécie de corrida para ver quem chegava primeiro, o que depois dava o direito de falar primeiro. A comitiva que chegasse primeiro, era a primeira a usar da palavra mal a celebração religiosa acabasse.
Cada partido apresentava os seus candidatos, as suas ideias para o futuro da freguesia, do município da região ou do país. Nessa altura o povo ouvia com atenção.
Recordo-me de assistir a comícios do PPD, PS e do CDS, na altura eram os partidos que mais apareciam. Recordo-me também da UDP que já se fazia notar.
Nesse tempo já se distribuía algum material de campanha que nós os mais pequenos colecionávamos.
Andávamos em correria a juntar panfletos e autocolantes que eram atirados pelas comitivas partidárias. Aqui não interessava nem a mensagem nem a cor política. Para nós o que contava era a quantidade. Juntávamos quase como cromos.
Comparando com os dias de hoje, nessa altura era pouco o material que se distribuía. Só mais tarde começaram a aparecer os lápis e os cadernos - por sinal material que dava muito jeito para a escola. As camisolas e bandeiras começaram a surgir mais tarde. Também eram materiais que davam muito jeito. A malta corria e quase que brigava por uma camisola. Também começaram a surgir uns sacos de pano. Por aqueles dias víamos alguns colegas que chegavam à escola com um saco com as cores do PSD. Era aí que levavam o material escolar.
As bandeiras de tecido também davam muito jeito. Recordo-me da minha mãe com o tecido das bandeiras, fazer travesseiros que depois eram enchidos com esponja. Fazia também sacos que serviam para levarmos milho ou trigo ao moinho para moer.
Nessa altura a luta política era intensa. Os políticos entre si por vezes não se olhavam como adversários, mas sim quase que como inimigos.
As actividades de campanha não tinham o profissionalismo de hoje. Nesse tempo eram os próprios militantes que andavam pelos sítios colando cartazes, ou pregando pendentes nos postes e iluminação pública.
O PPD como sabemos era hegemónico e dava pouca margem aos adversários políticos. Desse tempo recordo-me de três líderes marcantes da história da nossa autonomia: Alberto João Jardim, Emanuel Jardim Fernandes e Paulo Martins.