O certo é que dos responsáveis do Conservatório só ouvimos palavras de defesa da instituição. Em primeiro lugar deveriam estar as vítimas, depois a escola. A reputação da instituição não pode estar à frente do sofrimento dos jovens alunos, sob pena de estarmos a criar um regime de impunidade para quem comete estas práticas e a destruir todos princípios e valores que devem reger a escola.
Zelar pela presunção da inocência, nestes casos, pode significar deixar os alunos à mercê de um agressor. A morosidade da investigação e da própria justiça não se compadece da urgência do caso.
Certo que os predadores sexuais tudo fazem para estar perto das potenciais vítimas e que é difícil filtrar. Mas haver denúncias que remontam a 2011, com uma investigação já então noticiada no DN e que tudo continuou igual ao longo destes anos é intolerável. Só após ter sido feita a primeira denúncia pública, recentemente, é que antigos alunos perderam o medo de contar a sua história. Pergunto-me quantas mais vítimas existiram e poderiam vir a existir se não houvesse a ação determinada dos pais do jovem aluno que destapou a cortina para o que se passava no interior do Conservatório.
Por isso, quero deixar uma palavra de apreço e de conforto para com as vítimas. Foi um ato de coragem denunciarem publicamente os abusos de que foram alvo. Sobretudo, após terem sido alvo de intimidações e tentativas de silenciamento, até com ameaças públicas de processos de difamação. Um bem-haja também ao JM por um jornalismo digno desse nome, ao tornar público estas atrocidades cometidas contra os nossos jovens. Talvez agora se faça justiça.
Apesar do processo de investigação criminal que decorre, não consigo entender o porquê do Secretário da Educação e dos responsáveis do Conservatório da Madeira, não tenham sido chamados a "contas". Pelo que foi relatado, as denúncias não são de agora e os rumores existiam no meio. Há uma responsabilidade pública que todos parecem ignorar. Não há demissões, comissões de inquérito e audições parlamentares, como bem referenciou o subdiretor do JM, Miguel Silva.
Bem sei que estamos na silly season, mas ainda assim não acho normal o silêncio dos partidos, sobretudo da oposição no apuramento de responsabilidades e no escrutínio público que tem de ser feito a um caso desta gravidade.
Definitivamente, o Parlamento Regional já não é o que era. Faz falta quem agite as águas. Faz falta quem não aceite a impunidade. Faz falta quem não se conforme com as injustiças.