Os animais têm vindo a ocupar diversos espaços dentro das sociedades atuais. Para além das nossas casas, começam a “conquistar”, sobretudo nos EUA e em alguns países europeus, os lares de idosos; as escolas; os hospitais; centros de correção juvenil e as prisões, entre outros, com intuitos que vão além do objetivo lúdico ou recreativo – os animais vêm assumindo uma importância crescente nas intervenções terapêuticas nos seres humanos.
Há autores que falam mesmo em “cura” e reabilitação, emocional e social, de reclusos através da intervenção de animais - até porque, para a maioria das pessoas, os animais são seres “irresistíveis” e que “não os julgam” – “têm a possibilidade de interagir com um ser vivo que não os julgará pelos seus erros “- para eles, animais, não importa “os erros que se cometeram”; eles não discriminam os seres humanos, empatizando mesmo com eles, com naturalidade. Os animais “têm o poder de falar uma linguagem muito especial sem palavras” e têm “o dom de tirar o melhor dos seres humanos” ou não fossem, os cães, os “melhores amigos do Homem”.
Na população reclusa, os animais podem reforçar a comunicação entre todos os intervenientes prisionais, reclusos e profissionais, fomentando aspetos lúdicos e até afetivos da comunicação e conversação, além de facilitarem a expressão de emoções destas pessoas e de lhes aliviar a solidão e a saudade de casa e dos seus familiares (e inclusive dos seus animais de estimação). Permitem mesmo, aos reclusos, a melhoria dos seus relacionamentos interpessoais, o aumento da empatia pelos cães (que se pode extrapolar, subsequentemente, para os humanos), facilitando o vínculo entre pessoas.
Os animais podem igualmente contribuir para a redução da ansiedade, dos comportamentos agressivos e da impulsividade nesta população.
Comprovadamente, os programas de terapia com animais dão aos reclusos “uma sensação de retribuição à comunidade”, como nos casos de treino de cães para uma variedade de serviços , incluindo para a adoção dos animais fora de muros”; estabelecem, nos reclusos, uma conexão com outro (cão ou humano); conferem “uma sensação de responsabilidade e uma forma de amenizar os sentimentos de tristeza” e depressão; diminuem a ansiedade, com alta prevalência nas prisões; e diminuem a hipertensão e aumentam a autoestima dos reclusos, além de lhes promover habilidades sociais - tornando-os, assim, menos antissociais.
Este recurso terapêutico, assistido por animais, permite uma aproximação efetiva e responsável a estas populações do meio prisional, tornando-se uma ferramenta interessante e facilitadora do cumprimento da própria finalidade da pena até porque o animal permite uma vinculação emocional, gerando experiências positivas nestas pessoas, promovendo-lhes o desenvolvimento de compaixão e tolerância, que contribuirá para a desejada menor taxa de reincidência nos estabelecimentos prisionais.
Estes programas oferecem mesmo uma alternativa de baixo custo para o combate do sentimento de isolamento e solidão dos reclusos e de eventuais patologias do foro mental, também com alta prevalência nas prisões, diminuindo o recurso à medicação e o número de tentativas de suicídio.
Felizmente, por cá, na RAM, tanto a direção anterior como a direção atual do EPF têm sido recetivas a este tipo de intervenções, entendendo-as como um contributo humanizador para uma população que se deseja que “faça da adversidade uma oportunidade” para a sua vida.