Uma vez que a promessa foi feita em 2018 e ainda não chegou qualquer cêntimo ao orçamento regional, é legítima a pergunta por parte do deputado social-democrata. Afinal, em quanto é que se concretizou a propagada solidariedade do Governo socialista, para com a Madeira? Foi anunciada e até inscrita uma verba em Orçamento de Estado, com vista à comparticipação do esforço de acolhimento. Mas será que chegou aos beneficiários, de alguma forma?
Surpreendente foi a reação de Paulo Cafôfo: enraivecido, afirmou que o Governo da República não vai enviar "uma mala de dinheiro para a Madeira, sem comprovativos" dos gastos.
Não me cabe, neste espaço de opinião, perorar sobre a questão da alegada ausência de comprovativos das despesas. Pedro Ramos, na passada terça-feira, esclareceu essa questão, quando avançou ter havido inúmeras reuniões entre os dois governos e a troca de informação entre o Instituto de Administração da Saúde (IASaúde) e a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).
Por outro lado, pedir comprovativos de gastos de 10.000 pessoas, em matéria de Saúde, ao longo de 6 anos, é um pouco estapafúrdio. Então Cafôfo acha que o esforço terá sido de quanto? 10,00€? Tem noção dos custos em Saúde? Tem noção da dimensão do investimento que a Madeira faz na Saúde?
Mas o que é mesmo relevante, é a reação de Paulo Cafôfo: colérico, como se tivesse sido alvo de uma qualquer afronta, sem o mínimo de espírito democrático, muita agressividade e tom excessivamente acintoso, na solenidade da Assembleia da República, dirigiu-se a um deputado da Nação, como se estivesse numa tasca, com uma inaudita violência na prosódia e na linguagem corporal.
A sua reação leva-me a três conclusões: a primeira é de que Paulo Cafôfo não "perdoou" os madeirenses - e menos ainda todos os luso-venezuelanos - pela derrota que lhe impuseram em 2019.
A segunda é que, com este espírito rancoroso, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas revela que não foi para Lisboa para trabalhar em prol da nação e da diáspora portuguesa. Foi para o Governo de Costa, como Secretário de Estado de uma área tão relevante e tão sensível para a Madeira, para fazer guerrilha ao povo que o derrotou.
A terceira é que, como dizia um grande amigo, entretanto falecido, "escusamos de ficar descansados" se achamos que o ex(?)-líder do PS-M irá exercer alguma "magistratura de influência" em dossiês que nos digam respeito ou que possam afligir os madeirenses. A máxima que parece ter levado é a de que: "quanto pior, melhor". Não importa as consequências da sua ação para os madeirenses, desde que isso sirva para enfraquecer o Governo Regional da Madeira e o PSD-M.
Porque o verdadeiro objetivo ficou indisfarçável: Paulo Cafôfo está apenas a instrumentalizar uma Secretaria de Estado na tentativa de ganhar lastro para voltar a candidatar-se a presidente do Governo Regional. Se não em 2023, em 2027!
Aliás, o facto de Miguel Iglesias ter ficado com os dossiês que nos são caros, retirados das mãos de Carlos Pereira, demonstra que nos próximos tempos qualquer negociação com Lisboa será impossível. A palavra de ordem é erguer muros, calar diálogos e destruir pontes. Mesmo naquelas áreas onde tradicionalmente a relação entre os dois governos era de fácil trato.
Foi isso que a cólera de Paulo Cafôfo revelou.
Nem tudo está, todavia, perdido. Espero que o ressabiamento passe e volte alguma serenidade. E espero que perceba que se continuar a trilhar este caminho, as suas ambições e aspirações políticas para a Madeira ficarão cada vez mais distantes. Porque os madeirenses não perdoam traidores!