Caro Menino Jesus:
Depois de crescido, creio só Te ter escrito umas duas cartas, que me lembre. E pelo menos uma, quando no Governo.
Confesso que, em miúdo, mesmo após descobrir ser graças à Tua ajuda que os Pais ornamentavam o sapatinho com prendas, lá continuei a fazer o meu papel de te epistolar, até não ser possível disfarçar mais.
Ronha inocente que mal não trouxe ao mundo.
Mas fica sabendo que durante toda a minha vida olhei-Te com a mais respeitosa ternura.
Porque completas a realidade do meu conceito de Deus.
Embora eu saiba atrevimento das limitações de qualquer Ser Humano, o pretender compreender Deus, toda a Sua essência de Bem Absoluto, toda a perfeição da Sua Harmonia Total.
Por isso é que a Razão nos conduz à Fé e ao indesmentível conforto intelectual Desta, na procura de Deus.
Com horror à massificação, porque alienação da nossa Identidade como Pessoa Humana, lógico que nunca embarquei nessa moda do Pai Natal, nem lhe escrevi missivas.
É das tais coisas que me parecem “concorrência desleal”.
Percebi que o Pai Natal, coitado, ainda que eu respeitando as tradições culturais de aqui ou de acolá, veio sendo objecto de aproveitamento pelas correntes laicistas, no seu afã de mudar pela descristianização.
O laicismo, o materialismo, o consumismo, o relativismo, até a “formiga branca”, vêem no afecto por Ti, Menino Jesus, um valente incómodo para a construção do mundo que, num “politicamente correcto”, essa gente nos quer impingir.
Portanto, Menino Jesus, eis-me aqui com toda a minha “lata” habitual. Embora o Idadismo hoje em moda, bem como os costumes burgueses, achem ridículo Te escrever com quase oitenta e dois anos.
Obviamente que não Te vou pedir um carrinho, nem uma bola. E muito menos Te solicitar que me seja permitido “beber uma cerveja inteira”, pedido que em miúdo Te fiz, a ver se por Teu intermédio anulava o veto dos meus Pais.
Mas, Menino Jesus, estou desesperado com o que vai na Madeira.
Ou sou eu que não tenho razão?!...
Tão desesperado porque vejo meninos e meninas a estragar a Lapinha que, contra muitos poderosos - e que Poderes!... - o Povo Madeirense ergueu durante quase este último meio século.
E mais desesperado fico quando essas meninas e meninos me mandam estar quieto e calado.
Nem sequer querem que eu tente consertar o que ainda pode ter remédio.
Não sei o que é que eles e elas comem ao lanche. Parecem andar todos malucos, mesmo sendo de salas diferentes.
E cada sala usar bibes das mais diferentes cores, desde o vermelho ao azul, passando pelo laranja e o verde. E até há, moda nova, os que se fardam de “cor de burro a fugir”
Ou será culpa de todos os padrinhos que dão ofertas a todas as salas, serem os mesmos?...
Por isso, venho Te pedir que os metas na ordem.
Claro que sei que ao Te pedir que os metas na ordem, essa gente das “causas fracturantes” que se pintam e manifestam estranhamente - eu, cá, não entendo... - bem como os que dormem com o cachorro, todos esses, que sobretudo não gostam de Ti, vão decidir excomungar-me (uma força de expressão, porque eles não sabem o que isto seja...).
Não gostam de Ti, Menino Jesus, não é pelo facto de estares pobre nas palhinhas da Gruta de Belém.
Não gostam de Ti, pelo que continuas a representar de Esperança para o mundo. Esta gente civilizacionalmente retrógrada não quer a Paz do Natal, não Te quer ouvir.
Falam de “igualdade”, de “simplicidade” e de “despojamento” - para os outros - mas têm o poder burguês como objectivo de vida.
Ao não Te quererem aceitar, assumem assim o dogmatismo reacionário que é a negação da honestidade intelectual.
Mas, Menino Jesus, não leves esta carta como “queixinhas”.
Já basta os “bufos” covardolas das denúncias anónimas. Já basta a incompetência do Estado onde vivemos. Já basta o peso dos impostos sobre os Homens de Boa Vontade, pagar a quem pode e não quer trabalhar, num modelo de sociedade que vai extinguindo a Classe Média, à boa maneira comunista.
Isto não são queixinhas, Menino Jesus!...
É um grito de “basta!” a tanta injustiça.
Claro que eu não me atrevo a pretender determinar o que Deus pode ou deve fazer.
Mas o bom Povo Madeirense merece um sinal.