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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

9/10/2023 08:00

Esta é a frase que mais define o estado do nosso país: cegueira!

Num mundo capitalista em que vivemos, que tudo mercantiliza, centenas de portugueses são empurrados para uma situação de vulnerabilidade extrema nunca outrora vivida, a nível social, económico e cultural.

Vários são os desequilíbrios que predominam o nosso país e todos os dias o povo sente na pele aquilo que os nossos governantes não sentem. O desemprego, as desigualdades salariais, a taxa de inflação, a habitação, o ensino, a saúde, entre outros.

Todos os dias nos batem à porta a instabilidade, a precaridade, a burocracia, as dificuldades de progressão na carreira, o aumento dos preços, a pressão de rendas e de juros, as greves de professores, os serviços de urgência fechados nos hospitais…

Enfim, estamos a assistir a um país a desmoronar-se por completo, ao fim da linha!

Questiono: como é que chegámos a este patamar? Nunca tivemos tão mal como agora. Mas "o medo cega". Por mais inquietantes que nos encontremos, o povo continua a votar nos mesmos para o poder.

Desafio os nossos ministros e governantes a olharem ao seu redor, a irem à rua e viverem o dia a dia dos portugueses.

Desafio a trocarem de papel com alguém que acorda às quatro da manhã para ir ao Centro de Saúde e esperar a sorte de conseguir uma simples senha para ser atendido.

Desafio a deslocarem-se a um serviço de urgência, num hospital público e verem a necessidade de recorrerem ao privado porque o público está fechado.

Desafio a trocarem de lugar com uma mãe ou um pai que, ao chegar à escola para deixar os filhos, percebe que é greve de professores e só tem a alternativa de faltar ao emprego.

Desafio a trocarem de lugar com um jovem que se vê obrigado a congelar a sua matrícula por não ter condições financeiras para o alojamento.

Desafio a trocarem o vosso lugar com um professor, que ficou colocado numa escola com mais de 300 km de distância da sua residência.

Desafio a trocarem de lugar com um médico, que faz horas e horas extraordinárias sem ter tempo para investir mais na sua carreira ou na investigação.

Desafio a trocarem com um trabalhador, de qualquer setor, que passa horas a fio a dar o litro para receber o ordenado mínimo, sem valorização do próximo.

Desafio a analisarem o mercado imobiliário e fazerem contas de quanto teriam de pagar de prestação ao banco para terem uma habitação com as mínimas condições.

Desafio a trocarem o vosso rendimento mensal por um mínimo, e terem de gerir esse valor para pagar água, luz, renda, gasolina, alimentação e outros bens essenciais.

O nosso país perdeu-se no meio de querelas sem fim, a uma pobreza extrema, a um beco sem saída.

Os redundantes debates políticos aproveitam para atacar direitos, violar liberdades e impor retrocessos. Em vez de se debruçarem à verdadeira questão: as dificuldades do país, as razões do nosso atraso, e, sobretudo, o que fazer para ultrapassar. Apelo por um Governo que não diga apenas palavras bonitas, mas que converta o nosso receio em confiança… um Governo com consciência e responsabilidade do saber. Um governo que não se refugie em jogos políticos, que não desista de Portugal, mas sim, que aja em prol do povo português!

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