Existe, de facto, uma perigosa tendência para silenciar, ostracizar e perseguir aqueles que, teimosamente, continuam a querer ouvir as vozes do Povo. E esta tendência não poderia ser mais flagrante do que nos episódios recentes envolvendo a construção da famigerada Estrada das Ginjas.
Isto a propósito da nova consulta pública que, uma vez mais, veio reacender o debate em torno da pavimentação das Ginjas.
É importante recordar que este projeto, dado o ataque flagrante à nossa floresta endémica, recebeu um chumbo por parte da UNESCO que alegou que a necessidade de pavimentar não estava demonstrada e que a mesma iria potenciar uma maior proliferação de invasoras e um aumento do risco de incêndios florestais.
O mesmo foi referido por centenas de populares que, tal como nós, decidiram passar um cartão vermelho ao Governo e às suas pretensões, recusando um projeto que iria desmatar 40 hectares de floresta nativa e condenar dezenas de espécies protegidas (muitas delas endémicas).
Apesar do notório incómodo pela forte participação e submissão de contributos, o Governo foi obrigado a recuar nas suas pretensões, não sem antes criticar (em postura muito própria) cidadãos e ONG’s, apelidando-os de "senhores de Lisboa", num notório tom de "metam-se na vossa vida!".
Passaram-se alguns meses de aparente silêncio, com a exclusiva intervenção de alguns fiéis subordinados que, com obediência cega e ambições políticas desmesuradas (algumas já concretizadas), iam lançando algumas mentiras, difamações e manipulações para a esfera pública, de forma a (estrategicamente) desviar as atenções.
Eis que, esta semana, somos surpreendidos pelas artimanhas políticas do costume, que lançam uma nova consulta pública (obrigatória por lei) ao projeto da Estrada das Ginjas, que assumindo uma forma "camuflada", sem qualquer anúncio oficial, sem qualquer comunicado de imprensa, aproveita a confusão criada pelo próprio presidente do Governo com as novas medidas de restrição pandémicas. Poderíamos até (ingenuamente) pensar que este "esquecimento" poderia ser acidental. Mas qualquer dúvida ficou imediatamente esclarecida quando verificado o prazo para entrega de contributos - 10 dias!!! Dez dias para um projeto desta magnitude e com tão elevado mediatismo, numa clara tentativa de "calar" todos aqueles que "ousaram" levantar a sua voz contra as intenções do Governo Regional e para silenciar todos aqueles que se recusaram a "enfiar o Barreto".
Algo profundamente negativo e perigoso assombra a política regional. Continuam as tentativas de opacidade e as estratégias de controlo das decisões relativas a diversas agendas temáticas que consubstanciam e materializam o futuro da Região (entre elas a valorização do Património Natural). Estas decisões não podem ser encaradas como privilégios (de alguns) políticos. É um direito e um compromisso de TODOS os cidadãos - em nome do verdadeiro conceito de "Património Mundial".