Apesar de não apreciar a criatura nem com molho de tomate, tenho que admitir que foi uma vitória retumbante e em toda a linha. De uma só vez arrumou os emplastros das esquerdas radicais que o atormentavam e secou um Rio esforçado, mas insuficiente. No caminho, teve ainda tempo para elevar a extrema-direita a terceira força política e libertar os liberais de uma iniciativa urbano-depressiva.
Os mais ingénuos podem pensar que foi uma vitória do esforço e da humildade, mas não foi. Desde o início foi um jogo, uma sucessão de artimanhas, usando e abusando de quem se atravessou no caminho. Com uma determinação e uma desfaçatez inabalável, uma a uma foram sendo colocadas as peças do puzzle desta maioria ardilosamente montada. Sobre Costa, uma coisa é certa, é um corredor de fundo, um maratonista de primeira. Para este queniano disfarçado de sultão, "sprints" só para fugir a Sócrates.
A maioria das esquerdas de 2015, foi uma jogada arriscada, mas quem não arrisca, não petisca… e o nosso António e companhia lambuzaram-se durante quatro anos. Foi porreiro pá, andaram um bocado à deriva, o barco a meter água, mas a costa estava à vista (leia-se maioria). Foi tudo pensado como deve ser, jornalistas pouco amigos encostados, jornalistas amigos ressuscitados e bem tratados. Nos jornais e nas televisões, estava tudo resolvido e a vida era cor-de-rosa. Se havia problemas, havia sempre um ministro para sacrificar e sempre sem muita pressa. A especialidade do chefe Costa: ministros socialistas "slow cooking".
Depois veio 2019, o assalto ao poder não correu bem, o povo ainda não estava no ponto. A esquerda ainda estava dispersa, o circo das meninas do Chapitô ainda rendia votos de alucinados urbanos e o avô Jerónimo ainda impunha algum respeito aos vetustos comunistas. O PSD apresentava ainda alguma pujança e a direita era tida como empenhada e moderada, avizinhavam-se quatro anos penosos. Em 2020 veio a covid e a desgraça da Freitas e da Temido faziam temer o pior. Entre máscaras, batas e virologistas lá apareceu um camuflado para salvar o país e um governo comatoso ligado ao ventilador. A covid ajudou a disfarçar a incompetência, mas não era suficiente, havia que enfraquecer os adversários… mas como?
Solução? A extrema-direita tinha que crescer para erodir o PSD e a extrema-esquerda tinha que se esfrangalhar para engordar o PS. Mas o golpe de mestre não está na estratégia, está como Costa nos habituou, na táctica. Para ajudar na primeira tarefa, quem se chegou à frente foram os amigos dos jornais e dos comentários televisivos. Estes camaradas disfarçados de politólogos atacavam as ideias desventuradas do CHEGA e a cada comentário indignado arregimentavam mais mil simpatizantes para a causa de Ventura, que via diariamente o seu programa eleitoral ser divulgado de borla e em prime-time… de mestre.
Para as colegiais do Bloco a receita não podia ser a mesma, havia que ser mais engenhoso. As meninas já tinham um imposto com o seu nome. A soberba e a superioridade moral de quem é da esquerda "fine dining" podia ser uma saída, a pedincha orçamental era a solução. O engodo estava lançado, 2022 era o ano de todos os orçamentos e uma crise política em 2021 vinha mesmo a calhar. Foi tudo bem feito, porventura entusiasmado com a indumentária provocante das estudantes até o PCP foi na conversa. E pronto, estava o orçamento chumbado e o caldo entornado. A culpa, claro que foi das meninas mimadas e do avô condescendente… de mestre.
As eleições legislativas foram marcadas, com o PSD e o CDS em discussões e confusões internas, Costa foi preparando a campanha e as patranhas. Pelo caminho teve ainda tempo de cozinhar mais um ministro em lume brando, por sinal uma Chanfana. Mas enquanto se discutia se o petisco sabia ou não a bedum (e claro que sabia), não se falava do caos nas vacinas… de mestre. A campanha foi um festim, debates miseráveis que os amigos do costume e com os respectivos narizes já um bocado acastanhados elevavam a contendas épicas e vitoriosas… de mestre. Para ajudar à festa, teve ainda direito a umas sondagens muito simpáticas e "ajeitadas" que colocavam o PS taco a taco com o PSD. O célebre "empatão" foi o tocar a rebate do povo socialista, depois foi só esperar pacientemente por domingo… de mestre. Esta foi a crónica da maioria absoluta anunciada de António Costa, espero que o mandato para o qual foi agora eleito não se transforme na Crónica dos Bons Malandros, exemplos socialistas não faltam.