Fui aos étimos. À “polis, à politeia e à politiquê”, enquanto arte ou ciência de governar a cidade. Sinto falta dos clássicos. Não que sejam perfeitos. Longe disso. Mas porque nos recentram. Focam-nos no genuíno.
Vem este introito pelo momento atual que vivemos. Sem dúvida o período mais crítico e delicado da democracia e da autonomia regionais. O momento em que os cidadãos, uma vez mais, olham para os políticos com desconfiança e desprezo. Compreendo.
Claro que esta é uma profunda crise e abanão na confiança política. E nas crises urge clarividência na análise e foco na estratégia. À justiça o que é da justiça. Aos grupos económicos o que é dos grupos económicos. À política o que é da política. Não pertenço nem à justiça nem a nenhum grupo económico. Como tal sobre esses não me pronuncio. Façam o seu trabalho, imparcialmente bem feito!
Na política ativa estou há pouco mais de 10 anos. Antes disso andei muito próximo, mas não em exclusividade. Acredito na gênese do étimo, na arte de bem governar a coisa pública. No conceito aristotélico do “homem animal político”, o ser imperfeito que precisa da comunidade e dos outros para alcançar a plenitude. Acredito que as crises profundas são momentos de oportunidade. Oportunidade para refundar, para renascer! Quiçá melhores, mais apurados. Não esqueço e valorizo passado. Analiso também o presente com reflexão e inspiração para um futuro que quero melhor para todos.
O momento é extraordinariamente difícil. Tem de ser conduzido à luz da lei, da justiça e da capacidade de execução. Mas também não podemos ficar anestesiados. Para os que creem na política ao serviço do bem comum e da elevação social; para os que sabem que na política não se enriquece: é tempo de agir e seguir em frente. Com estratégia, lucidez e foco na missão. Parafraseando Tolentino Mendonça, para o servidor público o que tem de prevalecer é a missão, “O governo tem uma dimensão sacrificante (...) não se pode esquecer que a política exige dádiva, solidão e sacrifício”.
Importa estar disponíveis para a missão. Apoiar pode ser sair. Fazer pode ser não estar. Ajudar pode ser dar o lugar a outros. Mais novos, mais velhos ou simplesmente diferentes, mas coesos e unidos. Estamos nesta missão de passagem. Não somos empregados políticos! Para empregados políticos bastam os dois saltimbancos de causas pessoais que se pavoneiam entre a CMF, a ALRAM, a AR, a Secretaria de Estado, de olhos sedentos e salivantes pelo seu Governo Regional.
A política é a mais nobre forma de servir a comunidade. E na Madeira é preciso continuar a fazê-lo, com a bandeira da Autonomia hasteada. Não pelos políticos. Pelos madeirenses e porto-santenses que acreditam e diariamente trabalham na terra onde criam seus filhos!
À justiça o que é da justiça! Aos grupos económicos o que é dos grupos económicos! À política o que é da política! Sem receio de eleições. Sejam quando tiverem de ser! Certamente não tardarão! Mantenhamo-nos livres e combativos até porque há mais vida para além da política! À luta! Autonomia sempre!