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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

29/03/2021 08:00

Estima-se que antes de 1974, as mulheres ganhavam menos 40% que os homens. Hoje, embora imensamente tenhamos alcançado nestas últimas décadas, ainda há muito por atingir, como a igualdade de direitos no mercado de trabalho. As estatísticas indicam que em vários setores de atividade, as mulheres ainda ganham menos que os homens, cerca de 17.9%. As mulheres constituem uma percentagem mínima na liderança de cargos de topo. A taxa de despedimento de mulheres é elevada.

Nestes últimos meses, a pandemia do COVID-19 veio atenuar a desigualdade entre homens e mulheres na questão do trabalho. De acordo com o Instituto Nacional da Estatística, a maioria dos postos de trabalhos perdidos durante o confinamento foram de mulheres, tendo como principais causas: a sua situação laboral - frágil - ; por se encontrarem a trabalhar nos setores mais afetados pela crise; por não ser possível exercer o teletrabalho; por considerem abandono do local de trabalho ao darem apoio aos seus dependentes devido ao encerramento das escolas e creches; ou, casos ainda em que engravidaram e perderam, de um momento para o outro, todo o seu direito de exercer.

Efetivamente, ainda existe uma desigualdade e com a crise pandémica, tende a aumentar o risco de um retrocesso de todas as conquistas feitas para a igualdade de género. Para evitar estas diferenças, é imprescindível a preservação do progresso e das conquistas já alcançadas; combater a marginalização profissional, lutar pelo futuro ao qual queremos chegar; e, sobretudo, mudar esta mentalidade retrógrada da nossa sociedade.

Para além das diferenças salariais e da ascensão na carreira, a luta por direitos iguais, pelo poder ao voto e liberdade de expressão, já vem de longe. São reivindicações alcançados num percurso longo, e conquistado do esforço de mulheres visionárias e revolucionárias que ficaram na história portuguesa. Por exemplo, da Carolina Beatriz Ângelo (a primeira mulher a votar e a primeira médica a operar no Hospital de S. José na zona de Lisboa), Ana de Castro Osório (a primeira feminista) ou até mesmo Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (conhecidas como as três Marias que denunciaram a opressão à mulher através da publicação do livro Novas Cartas Portuguesas). Mulheres que marcaram a sociedade, numa época em que viviam no silêncio. Não tinham direitos, apenas deveres e obrigações. Existia uma verdadeira opressão à mulher, embora muitas não consciencializassem desta questão, sendo desvalorizada e até passada de geração para geração.

Após o fim do Estado Novo, esperava-se o fim das desigualdades. E sim, muito foi alcançado. Contudo, em pleno século XXI e no ano 2021, ainda existe muito para mudar.

A luta das mulheres faz parte intrinca da luta da liberdade deste país. Entre igualdade na lei e na vida, no concreto do dia a dia vai um passo enorme que demonstra o quanto é preciso ainda batalhar para uma igualdade e justiça social! Ainda temos um longo caminho a percorrer e ele faz-se pela luta quotidiana por melhores condições de trabalho e de vida, permite mais reconhecimento e ultrapassagem de estereótipos e discriminações. É uma luta não apenas das mulheres, mas de todos nós - enquanto portuguesas - pela democracia!

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