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Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

24/03/2021 08:02

O ponto de referência mais conhecido desta zona é a Praça Flagey. Esta é uma zona emblemática da cidade, que todos os dias enche-se de vida, mais não seja pelos bonitos lagos junto à praça que atraem aqueles que querem lavar as vistas do cinzento cimento da cidade.

Bruxelas tem uma longa história de imigração portuguesa e a área em redor da Praça Flagey é algo como um ‘Pequeno Portugal’, dado ao grande número de restaurantes e cafés portugueses que há por aqui.

É conveniente, portanto, que num canto da praça se encontre um monumento, que é um dos meus pedacinhos favoritos desta cidade. Trata-se de um memorial a Fernando Pessoa. É uma cabeça gigantesca de metal assente em calçada portuguesa e onde se pode ler a frase ‘A minha pátria é a Língua Portuguesa’. Adoro como é aleatório que um busto de Fernando Pessoa esteja ali, numa das praças mais frequentadas de Bruxelas. Isto representa bem como Bruxelas é um lar para muitas culturas diferentes.

Uma das coisas que me atrai à capital europeia é a diversidade vertiginosa da cidade. Há espaço para cada cultura se poder exprimir e, por vezes, basta virar a esquina para me sentir como se tivesse tropeçado numa cidade estrangeira.
Naquele pequeno espaço, com Pessoa e calçada portuguesa, sinto-me em Lisboa.

A estátua foi danificada por tempestades há uns anos, mas acabou por ser restaurada e devolvida ao seu cantinho. Uma metáfora apropriada, talvez, para a resiliência das comunidades imigrantes de Bruxelas, que fazem da cidade um
verdadeiro mosaico de culturas.

Nestas últimas semanas, o confinamento tem-me afetado mais do que o normal. Sinto falta de casa - a minha casinha madeirense -, sinto falta do abraço da minha mãe e muita falta do sol português a aquecer-me a pele. Talvez por isso, inconscientemente, tenha vindo a encontrar abrigo emocional nestes pequenos momentos aleatórios: no busto de Fernando Pessoa, a cinco passos da minha casa; na rulote de bifanas que encontro no mercado; no supermercado português onde vou só para comprar pastéis de nata. Pequenos comprimidos medicinais para a alma.

Na semana passada, a Comissão Europeia anunciou a proposta de criação de um Certificado Verde Digital para facilitar a livre circulação segura dentro da UE durante a pandemia. O documento será uma prova de que uma pessoa foi vacinada contra a COVID-19, recebeu um resultado negativo do teste ou recuperou da doença.

As viagens aéreas enfrentaram uma depressão profunda durante a pandemia que resultou em várias companhias aéreas a encerrarem as operações ou a declararem falência. A pandemia levou ao encerramento de países, proibindo as viagens para travar a propagação do vírus. As companhias aéreas, assim como alguns viajantes, esperam que um passaporte vacinal dê aos governos a oportunidade de aliviar as restrições e permitir mais viagens.

Para o meu lado, espero que este seja um método que agilize o processo das famílias que estão separadas há vários meses para que finalmente se possam reencontrar. Porque eu mal posso esperar para voltar a entrar sem medos num avião que diga ‘Destino: Funchal, Madeira’. Por enquanto, tudo o que posso fazer é esperar e passear pelo ‘Pequeno Portugal’ na Flagey para afagar as saudades de casa.

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