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Artigo de Opinião

Jornalista

16/02/2023 08:00

Faz hoje oito dias foi dia das Comadres. A festa como sabemos aconteceu no fim-de-semana passado.

É no norte mais propriamente no Concelho de Santana que se dá início às festividades do Carnaval na Madeira.

Em Santana a tradição vai desta forma sendo cumprida.

É um Carnaval completamente diferente daquilo que se passa no resto da região.

Aqui a sátira reveste-se de várias formas, numa "guerra" que envolve comadres e compadres.

As hostilidades começam com o dia das comadres que acontece sempre na penúltima quinta-feira que antecede o dia de Carnaval. Nesse dia os compadres saem à rua (sobretudo à noite) para gozar com as comadres.

É neste dia que surgem em diversos pontos da cidade de Santana, alguns compadres amarrados em árvores ou noutros pontos, por norma com uma quadra associada. Um pequeno texto de rima simples carregado de indiretas dirigido a algumas figuras mais conhecidas na localidade.

Nesse dia à noite um grupo de homens junta-se em frente ao edifício da Câmara Municipal, cantando uma série de quadras dirigidas às comadres da Freguesia. Noutros tempos não era bem assim, mas o espírito da coisa está lá.

Oito dias depois, é a vez de as comadres assumirem as rédeas do "gozo". Não perdoam os compadres e no mesmo local, fazem uma espécie de funeral do compadre.

Pelo meio teve lugar a Festa dos Compadres. Este ano o tempo ajudou e o evento foi muito concorrido.

Há duas imagens de marca desta tradição a norte: o cortejo alegórico e o julgamento do compadre.

Nos anos setenta e oitenta quando estas festas viviam sobretudo a vontade e criatividade popular, a essência da festa era outra. Havia mais genuinidade. Uma essência que de certa forma se foi perdendo ao longo do tempo.

Nessa altura a festa vivia da forma espontânea como o povo se envolvia na festa. Os locais organizavam-se em grupos que criavam os seus quadros e encenações para mostrar no cortejo. Nesse tempo não faltava criatividade.

Nos anos mais recentes nota-se uma preocupação de não deixar morrer a tradição. No entanto, talvez falte procurar aproximar ainda mais da verdadeira tradição, sobretudo ao nível do cortejo alegórico.

Noutros tempos neste cortejo para além de se retratar vários momentos das vivências no campo, tudo isso era feito sempre recorrendo à sátira. Esse espírito parece se ter perdido um pouco. A própria "comadre gigante" e o "compadre anão" que deambulava ao longo do percurso do cortejo pelas ruas da cidade recebendo mimos do seu companheiro que subia uma escada para a beijar, precisa de ser recuperada na sua versão original. Julgo que será de toda a conveniência que a Festa dos Compadres, mantenha a sua marca, e que não se transforme em mais uma festa de Carnaval como outra qualquer que acontece em qualquer ponto da região. Talvez envolver mais as escolas num verdadeiro espírito de Festa dos Compadres, naturalmente sempre associado ao Carnaval.

Um cartaz desta dimensão merece ser preservado e passado de geração em geração.

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