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Artigo de Opinião

20/12/2023 08:00

A cidade de Angra do Heroísmo celebrou no passado dia 7 de dezembro, 40 anos da sua classificação como cidade-património da UNESCO, celebrando não apenas a rica história da cidade, como também as dinâmicas sociais intrínsecas à sua classificação, remontando à década de 80 do século passado, mais especificamente após o sismo que assolou a região.

Tive a oportunidade de estar presente nas comemorações e de constatar que o cataclismo sísmico não só desencadeou uma necessária reconstrução física, como também catalisou uma transformação mais profunda na mentalidade coletiva. A geração anterior, consciente do impacto da destruição demonstrou uma enorme sensibilidade para uma reconstrução criteriosa e crítica não só do património edificado como daquela que fora a importância da cidade em todas as dinâmicas expansionistas para o continente americano, enquanto que a geração subsequente, crescendo consciente desta herança, assumiu um compromisso inabalável com a preservação.

O evento sísmico, longe de ser apenas uma adversidade, tornou-se uma oportunidade decisiva para Angra do Heroísmo, impulsionando a cidade a reconhecer e valorizar a sua herança de uma maneira renovada, culminando na sua distinção como cidade-património da UNESCO e solidificando uma narrativa de resiliência e preservação. Este fenómeno não é apenas um registo histórico, mas um reflexo tangível de como as experiências vividas moldaram a consciência coletiva e a abordagem ao património em Angra do Heroísmo.

A resposta social adotada refletiu-se em estratégias inovadoras de conservação, onde a preservação não era apenas uma questão de manutenção física, mas sim uma integração profunda na identidade local. Desde a criação de programas educativos, à sensibilização e envolvimento ativo da comunidade foram diversas as atividades que moldaram a narrativa coletiva, tornando o património não apenas uma relíquia do passado, mas um fio condutor para o futuro.

Os madeirenses poderão observar as lições de Angra do Heroísmo, adaptando essas medidas à nossa própria realidade, potenciando um aprofundamento da consciência da nossa paisagem construída. Em períodos pós-adversidade, promover uma reconstrução crítica e consciente do património é essencial, garantindo não apenas a reconstrução física, mas também uma reflexão sobre o significado cultural e histórico do edificado. Ao integrar programas educativos desde cedo nas escolas, a região pode fomentar uma nova geração de cidadãos conscientes da importância do património, garantindo a sua preservação a longo prazo. Além disso, a criação de estratégias proactivas de conservação, a sustentabilidade na gestão do património e o envolvimento ativo da comunidade em eventos culturais podem fortalecer a conexão entre os madeirenses e o seu património edificado, transformando-o numa responsabilidade social.

Foi inspirador observar como a história, a sensibilidade cultural e a vontade de preservação se entrelaçam para criar uma cidade que não apenas sobrevive ao tempo, como uma testemunha viva de seu próprio passado. Estas dinâmicas sociais dos nossos vizinhos atlânticos podem servir como um guia para a Madeira, para que se entenda a importância da consciencialização geracional, da reconstrução crítica e do compromisso coletivo na preservação do património construído.

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