E é algures para aí, a cerca de doze quilómetros da costa, que Ricardo Franco, presidente da Câmara de Machico, anunciou estar em estudo a colocação de eólicas para a produção de energia renovável. E disse-o com manifesto entusiasmo de quem está convencido do bem que isso vai trazer para o concelho que dirige. Curiosamente não houve qualquer ruído mediático após o anúncio, o que é de estranhar num concelho com as particularidades políticas de Machico e pela importância do mar na principal entrada da costa sul da Madeira.
Curioso também é o facto de ser um socialista a fazer gala da apresentação dum projeto com grande impacto paisagístico, quando tem sido precisamente o PS a contestar todo e qualquer projeto com impacto parecido na Região. Na Calheta as jaulas de piscicultura são um atentado à paisagem. Em frente à Ponta de São Lourenço parece ser tudo normal para o presidente de Machico. Nem parece a mesma pessoa que, na qualidade de vereador da oposição, tanto fez para denegrir a imagem do investimento da Quinta do Lorde, promovendo inquéritos parlamentares e providências cautelares que até hoje tanto prejudicaram o sucesso daquela unidade hoteleira de superior interesse para o concelho. Lembre-se também que foi este mesmo partido socialista que tanto criticou o impacto paisagístico da Zona Franca, na freguesia do Caniçal.
Não há qualquer oposição ao desenvolvimento de projetos de energias renováveis na Região. Até pela particularidade do momento, pelos ensinamentos que a atual guerra nos trouxe e pela necessidade da sustentabilidade energética da ilha. Mas convenhamos que o local escolhido não poderia ter sido pior. Trata-se da principal porta de entrada marítima da Madeira, por ali entram e saem quase todos os barcos que nos visitam, os cruzeiros, os cargueiros e até o Lobo Marinho que vai passar a ter uma paisagem alternativa. E acreditem que, apesar da sua importância económica, não é do melhor que podemos oferecer aos turistas que nos visitam. Porque todos, até os que sobrevoam o cone de aproximação do aeroporto, logo terão um cartão de visita pouco recomendável numa região que sobrevive do turismo.
Curioso é também perceber porque razão Ricardo Franco decidiu fazer ele o anúncio deste investimento. Até porque não compete ao município a autorização de viabilização de tal projeto. Há outras autoridades administrativas que vão ter de se pronunciar, Governo, Capitania. Então porquê a precipitação do presidente da câmara?
A única razão que descortinamos é o facto desta vereação não ter qualquer outro projeto para apresentar. Numas jornadas organizadas pelo JM, perante outras entidades, perante a opinião pública e a comunicação social, em Machico, a Câmara não tinha nada para dizer, nada de novo para apresentar, nenhum outro projeto para anunciar. Houve, provavelmente, vergonha de se referir de novo aos projetos sempre adiados. Nove anos de governação municipal e nada, absolutamente nada.
A última curiosidade deste episódio é o silêncio da oposição. Nem uma palavra, nem uma reação de nenhum partido, nem dos habituais ambientalistas. Ou estão entretidos com as suas questiúnculas internas, o que seria preocupante, ou, então, não se aperceberam sequer do que está em causa, o que seria deveras alarmante. Resta esperar que tudo não passe de mais um projeto que morre na gaveta. Como de costume.