Provavelmente estás a perguntar-te como posso afirmar tal coisa, sem te conhecer. Duvidas da minha palavra porque não te ouvi a gritar com o teu filho ontem. Não te vi a perder a calma quando juraste que não o voltarias a fazer. Não te observei cheia de vergonha daquela birra no shopping ou a utilizar 350 vezes nas últimas semanas, a estratégia desesperada do "O Pai Natal está a ver isto tudo, sabes?!".
Não te vi, mas consigo enxergar-te. Sei que tu e eu e a grande maioria das mães do mundo (grande generalização, eu sei!) temos mais em comum do que imaginas. Sei que te sentes a pior mãe do mundo quando gritas. Sei que muitas vezes ficas a dar voltas na cama à noite a pensar que afinal, aquele pedido do pequeno não tinha sido assim tão descabido… sei que, muitas vezes a culpa e a vergonha são a tua maior companhia. E também acho que sei porque é que este ciclo vicioso perdura. É porque te sentes cansada e exiges muito (demais) de ti. E porque devias cuidar-te mais e em vez disso cuidas de tudo e todos e acreditas que é assim que deve ser.
Quero dizer-te algo muito importante neste dia tão simbólico e especial, que é o primeiro dia deste novo ano. Sentes culpa porque queres ser melhor para o teu filho. Sentes culpa porque queres reparar os teus erros. E erras tanto porque estás sempre lá, na frente de batalha, todos os dias, 24 horas. Sem férias e sem folgas. Falhas tanto porque dás muito e és apenas humana. E falhas tanto porque não desistes! E é por tudo isto que és uma boa mãe.
Precisas de saber que os nossos filhos amados, que carregam o nosso coração, trazem também consigo, inconscientemente, a capacidade de iluminar o melhor e o pior de nós. Despertam em nós gatilhos que estavam adormecidos. Conseguem escancarar feridas da criança que fomos e acima de tudo trazem-nos uma grande oportunidade de nos desenvolvermos como pessoas.
Os nossos filhos, como alguém já disse, são verdadeiros mestres quando somos humildes para aprender. As mensagens mais importantes da vida, eles veiculam todos os dias. Só temos que desenvolver a a capacidade de as escutar…
E sabes o que as nossas crianças conseguem fazer muito bem, também? Sentir compaixão e perdoar.
Por isso, perdoa-te. Perdoa-te por não seres perfeita. A perfeição é tão injusta e utópica. A necessidade da perfeição mata sonhos à nascença. Tal como a vergonha que nos conta mentiras. A vergonha, sentimento disfórico de alta intensidade, diz-nos que somos as únicas mães do mundo que se "passam" com os seus filhos. Diz-nos também que se cometermos um erro, isso quer dizer que não somos boas pessoas, que não somos boas mães. A vergonha ataca o nosso self, o nosso valor próprio e isso é perigoso.
A vergonha faz-te ficar cega às dezenas de ações positivas que tiveste no teu dia. Faz-te esquecer o esforço hercúleo que fazes. A vergonha ativa o teu crítico interno e quase apaga os momentos lindos que tiveste com o teu filho, o quão bem cuidaste dele, aquele abraço que lhe deste, o teres dito e mostrado que o amavas… Não permitas que isso aconteça. A verdade é que a maternidade é algo incrível e também é extraordinariamente difícil, por vezes. É urgente enxergar que a maternidade real tem momentos menos bonitos, cansativos e desafiantes e que é natural precisarmos do nosso espaço. É humano querer uma pausa, mesmo amando muito os nossos filhos. As mães também precisam de colo. As mães precisam de apoio e de menos julgamento por parte de outras mulheres. Precisam de se comparar menos. E tu precisas de entender de uma vez por todas, que és a melhor mãe do mundo para o teu filho, mesmo com as tuas falhas, porque queres ser melhor.
Então, este ano desejo que continues a dar o teu melhor todos os dias, com menos culpa e acima de tudo, com mais responsabilidade e mais amor próprio. Feliz Ano Novo!