Desde pequena que me lembro de ouvir os adultos à minha volta repetirem ano após ano "Já é Natal, como é que o tempo passou tão rápido?"
É realmente interessante a nossa percepção atual do tempo. Investigadores já se dedicam há algum tempo a estudar este tema. Porque é que o tempo parece passar tão rápido para umas pessoas e para outras é precisamente o oposto?
As conclusões passam pelas vivências e pelas memórias criadas. Todos sabemos empiricamente que o tempo "passa mais devagar" quando estamos a experienciar algo que não é agradável para nós, enquanto que o tempo "passa a voar" quando estamos divertidos e realmente envolvidos numa tarefa ou evento.
Cientificamente este fenómeno pode ser explicado pelos nossos neurónios, como descobriram investigadores da Fundação Champalimaud. Quando estamos a apreciar algo, o nosso corpo liberta dopamina, uma hormona de prazer. Percebeu-se que essas mesmas células dopaminérgicas são responsáveis por estimar o tempo e nesses momentos avaliam o tempo como mais curto.
Esta, no entanto, não deverá ser a única justificação para o facto de experienciarmos o ano a passar tão rápido, já que os últimos 11 meses nem sempre foram feitos de momentos de contentamento para a grande maioria de nós, verdade?
A Lei de Weber-Fechner traz uma leitura igualmente interessante sobre isto: a nossa percepção de tudo é baseada em referências relativas, não existe uma máquina a medir exatamente o quanto mudou, comparamos com experiências anteriores do mesmo estímulo e calculamos. Ou seja, comparamos este ano a anos anteriores e formamos a nossa impressão baseada na comparação.
Este último ano, comparado com 2020 provavelmente passou incrivelmente rápido porque em plena pandemia devido a todas mudanças, isolamentos e emoções fortes que vivenciámos, o tempo quase que parou. A pandemia trouxe-nos igualmente uma maior noção das atividades das quais sentíamos falta, bem com dos eventos nos quais até agradecíamos não ter que participar.
A verdade é que com o ritmo de vida contemporâneo e com os estímulos a que estamos sujeitos diariamente, a perceção de tempo é realmente diferente, se comparada com a vivência dos nossos antepassados, há 100 anos, 50 anos ou mesmo 30 anos atrás. Hoje, num só dia podemos visitar diversos países, conhecer cidades e culturas diferentes em algumas horas e em poucos segundos aceder a informação que antes apenas existia em bibliotecas selectas do mundo.
É fascinante pensar sobre o tempo porque é uma das poucas coisas que não conseguimos adquirir na vida.
É o nosso bem mais precioso e o qual não podemos reter nem poupar. Apenas podemos tentar fazer escolhas mais conscientes de como passar esse tempo e com quem.
Isto tudo para refletir em como é que já estamos todos a fazer decorações de Natal, a comprar prendas e a preparar as reuniões de família para as próximas semanas!
É avassalador e só nos resta aceitar que não temos qualquer controle sobre o tempo, mas podemos decidir que acções e tarefas vamos realizar nesse tempo e com que qualidade estaremos nas interacções com as pessoas que amamos neste Natal.
Para isso, preciso de priorizar tempos para mim e para fazer coisas que eu gosto, desafio por vezes hercúleo perante as dinâmicas familiares inconscientes que irão surgir nos encontros natalícios.
Então, creio que a pergunta mais inteligente a fazer-nos será: Como quero usar o meu tempo neste último mês do ano?
Boas escolhas!