Quando falamos em termos técnicos, humor é um estado emocional persistente no tempo. Mas há o humor relacionado com a comédia, com a capacidade de fazer piadas, o sentido de humor. Conseguirmo-nos rir é fundamental para a nossa saúde mental.
Rir é uma das expressões mais libertadoras. Uma boa gargalhada liberta os nossos músculos, liberta hormonas. Tem mostrado também alguma evidência de melhorar o nosso sistema imunitário. Lembrando sempre a relação simbiótica de todos os nossos sistemas, é importante percebermos que só conseguimos rir, se tivermos saúde nos diversos sistemas do nosso corpo, sobretudo no cérebro. É também interessante como em algumas doenças neurológicas surge um rir impulsivo, biológico e assim, sem sentido cognitivo ou social. Em algumas alterações psiquiátricas, também à o rir fora do contexto social, em que a pessoa pode estar a ouvir vozes e se assim o for, trata-se de uma doença muito grave. Também pode rir-se de forma desadequada no contexto de outras doenças, que afetam a leitura social e do outro. São habitualmente doenças graves, porque o nosso cérebro está desenvolvido para nos adaptarmos socialmente.
O chamado sentido de humor, a capacidade de fazer piadas saudáveis é considerado um dos mecanismos de defesa do eu de melhor qualidade. Existem muitos mecanismos para nos defendermos do sofrimento, mas a capacidade de fazer piadas é o que habitualmente representa uma maior maturidade emocional. Também o tipo de humor, mais básico e humilhando os outros ou mais intelectual e mordaz também revela muito sobre a real maturidade dos sistemas de defesa emocional. Não é por uma pessoa fazer piadas que é emocionalmente maduro, mas se estiver a sofrer bastante, pode ser uma ferramenta de sobrevivência mais adequada do que outros mecanismos de defesa.
Um bom exemplo de utilização do humor para defesa do sofrimento é quando tropeçamos e caímos. Algo doi. Qual a nossa reação? Chorar, gritar, bater, rir? Rir é o melhor remédio e sem dúvida, a reação emocional mais saudável neste caso.
Como sempre, não é por algo ser bom numa circunstância, que é bom em todas. Também existe o problema de a pessoa poder ficar bloqueada em fazer piadas e não conseguir sentir as emoções mais profundas e libertá-las. Não é por nos estarmos a rir que as feridas ficam curadas e nem sempre o tempo resolve tudo. Um dos principais casos é no luto. A pessoa que começa logo a rir, não ultrapassou nada. Está ainda na primeira fase, a fase da negação. Tem de libertar-se deste mecanismo e aceitar chorar e ficar triste, para poder avançar.
Tal como o pessimista não consegue viver a vida plenamente porque está bloqueado no lado negro das emoções, também quem se ri sempre não está a viver plenamente. A experiência humana é fluída e precisamos dos bons e maus momentos, das boas e más emoções, do otimismo e do pessimismo.
É no movimento do pêndulo para um lado e para o outro que nos podemos aperceber de tantas perspetivas diferentes da vida. Perdemos imenso da riqueza do mundo se não conseguirmos autorizar-nos a sentir as diferentes emoções e é nesses bloqueios que acontecem tantos problemas humanos. A potencialidade do ser humano é facilmente subvertida pelas emoções primárias. É com o desenvolvimento pessoal e social que conseguimos reverter essa facilidade e podemos criar sociedades equilibradas. Enquanto o desenvolvimento emocional não for tão importante como o cognitivo, vamos ter sociedades instáveis e que nos movimentos do pêndulo, procurarão a destruição.