Imagine... que, pouco antes dumas eleições legislativas, um primeiro-ministro e um futuro ministro, putativo delfim, decidem que era boa ideia trazer para o governo seguinte uma gestora com uma carreira meteórica na área empresarial pública;
Imagine... que logo após terem ganho essas eleições com maioria absoluta, esses dois políticos convidam a gestora para fazer parte do elenco governativo;
Imagine… que a dita senhora mostra interesse no convite (ora... quem resiste ao apelo do poder?) advertindo, contudo, que não pode aceitar pois o salário de secretário de estado é um terço daquele que recebe, já com cortes de reestruturação da empresa;
Imagine… que uma passagem direta dessa empresa para o governo através de nomeação, suspende apenas o vínculo, significando diminuição imediata de salário;
Imagine... que alguém se lembra que a destituição da gestora do seu cargo na administração da empresa, cumulativamente com rescisão do seu contrato de trabalho, fá-la receber tudo de uma vez, sendo o futuro salário de governante uma espécie de bônus;
Imagine... que apenas cinco dias após a vitória eleitoral, essa empresa pública comunica à CMVM que rescindiram com a administradora, a pedido desta, o que ainda assim lhe garantia uma choruda indemnização;
Imagine... que a gestora recebe ainda mais 100 mil euros em férias, que se esqueceu de registar como gozadas;
Imagine.... que, para cumprir o período de nojo, aguardando por um momento oportuno, em remodelação governamental, para assumir funções, a gestora fica num lugar que se encontrava vago noutra empresa pública, com atividade conexa à da primeira, e com salário semelhante ao que vai auferir como membro do governo;
Imagine... que a quatro anos do final duma legislatura anormalmente longa, surge a oportunidade, motivada pela saída de outro secretário de Estado, também nomeado sem cuidar do seu passado político.
Imagine... que o primeiro-ministro esperava que a tolerância a que se habituou, e que o levou a aguentar membros do seu governo para além do razoável, salvaguardasse a manutenção da Gestora-govenante-estrela.
Imagine… que a saída deste despudorado escândalo, em plena silly season natalícia, onde não há outras notícias, centra a atenção da opinião pública neste caso, obrigando o primeiro-ministro a sacudir a água para os seus ministros, culminando com a demissão da ministra. Felizmente, desta vez, sem indemnizações milionárias…
Imagine… apenas imagine que tudo isto é ficção.