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Artigo de Opinião

Médica Veterinária

6/07/2023 08:00

Sim, há vários estudos já (não ainda entre nós, portugueses, mas há quem comece, academicamente, a dar os primeiros passos nesta temática em Portugal) que se debruçam sobre os benefícios psicossociais dos animais para a população em situação de sem abrigo ou sem teto - situação que, em si, constitui um desafio, um imperativo, de intervenção pública e política. Aos mais críticos, relembra-se que esta situação pode acometer qualquer um de nós, segundo especialistas - basta que para tal se deixe de conseguir pagar casa ou outra grande dívida durante 5 meses seguidos, sem que se tenha qualquer rede e apoio familiar ou social - e talvez pudesse despertar antes a compaixão, social e humana, e não a revolta critica perante tal condição (des)humana.

Kerman et al (2020) - veja-se a atualidade do tema! - publicaram mesmo um artigo com propostas de intervenção para atuação ao nível da saúde pública, e da saúde e bem-estar destas pessoas assim como dos seus animais de estimação - e vai mais longe: propõe o aumento de abrigos de emergência para estas pessoas que aceitem os seus animais de estimação, ou o acesso a habitação de aluguer económico, assim como oferta de serviços de saúde humana e médico-veterinários para os animais. Já não sendo pouco o que se expõe, sugerem intervenções públicas e educativas para melhor conhecimento desta condição e do que a origina (sobretudo patologias psiquiátricas aliadas, ou não, a adições) e acabar com o estigma (tantas vezes com contornos de inumanização) sobre estas pessoas, e sobre estas pessoas e a sua relação com os seus animais de estimação. Ao invés, talvez se possa apostar política e socialmente, na prestação de serviços que possam apoiar os donos de animais em situação de desabrigo, interligando-os aos serviços comunitários já existentes e intervindo em estratégias que possam dar resposta efetiva a esta relação ser humano-animal em situação de rua - compreendendo, acima de tudo - e isto está documentado! -, que os animais são um apoio emocional para estas pessoas! E este suporte é fundamental para a sua reabilitação e reinserção social, facilitando o trabalho dos agentes sociais e de saúde que estão no terreno a cuidar deste grupo de pessoas vulneráveis, tantas vezes esquecidas, e, reiteradamente, marginalizadas...

Há umas semanas, na Rua Augusta, em Lisboa, cruzei-me com um sem abrigo que, sentado na calçada, escrevinhava num bloco de notas ladeado de dois cães bem cuidados que, relaxadamente (e não medicados!), descansavam no seu colo. Andando há anos envolvida e empenhada na vinculação entre pessoas e animais e em investigação sobre os efeitos benéficos dos animais para o ser humano, pensando sobretudo nas populações mais vulneráveis, acabei por abordar o senhor:

- Não me diga que está a escrever poemas? (foi a forma ligeira que me ocorreu para o interpelar 'do nada').

- Não, menina. São escritos do que me acontece no dia-a-dia.

- ... e escreve em boa companhia - interrompi eu, a querer desviar o assunto para os animais - parecem ser seus amigos!

- São mais do que isso. São a minha família neste momento.

(continua)

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