Não duvidemos que aquilo que se vai ouvindo de estarmos a perder uma geração das mais qualificadas é um facto. Pese embora não dever ser uma inevitabilidade.
Só no segmento da emigração com altas qualificações, cruzar esta realidade com o saldo demográfico significa, também, que ao perdermos milhares de profissionais qualificados para a emigração estamos a desperdiçar, não só grande parte do investimento realizado em educação, como ainda, a perder uma parte significativa dos futuros portugueses que nascem fora do país. Em 2021, cerca de 19% dos filhos de mães portuguesas nasceram no estrangeiro.
Muito recentemente, a Deloitte, num estudo patrocinado pela Associação Business Roundtable, estima que em Portugal 24% do talento nacional está propenso ou muito propenso a emigrar. A percentagem sobe para 48% nos jovens da Geração Z (menos de 25 anos). O salário e o poder de compra, as oportunidades e perspetivas de evolução de carreira e os regimes fiscais são apontados como os principais fatores de emigração. Mais, a maioria dos emigrantes qualificados inquiridos (61%) não tenciona voltar para Portugal. Os motivos mantêm-se claros: condições salariais (60%, que incluem salários, impostos e custo de vida) e evolução na carreira (43%) pouco atrativa.
Entre nós a carga fiscal e parafiscal (Segurança Social) sobre o Trabalho, tanto nas faixas salariais médias-baixas, como nas mais altas, continua a ser das mais elevadas da Europa. Em 2022, Portugal ficou na 9.ª posição entre os países membros da OCDE, para o salário médio de um trabalhador sem dependentes. Mais, se for considerada uma família típica, com dois filhos e salário abaixo da média, subimos para a 6.ª posição.
Pensamos que todos concordam que o salário e o poder de compra são as dimensões de atratividade mais importantes para qualquer jovem ingressar no mercado de trabalho. São estas dimensões que possibilitam um nível de vida confortável. Acresce, que condicionam o acesso à habitação, mobilidade, saúde, educação, lazer e despesas essenciais com a constituição de família.
A retenção de talento, é disto que se trata quando não se quer perder os melhores, faz-se remunerando melhor quem tem melhores competências. Já o aludimos, neste espaço, que pagar a remuneração do conhecimento é, assim, fundamental. A remuneração do posto que o trabalhador ocupa deve atender e valorizar reconhecidamente em valor: o tempo que é dedicado às funções que são desempenhadas, a competência demonstrada, o trabalho e a qualificação que é necessária.
O grande desafio que se coloca a Portugal, ninguém duvidará, é do crescimento. Aqui, a competitividade acaba desempenhando um papel crucial. Só com trabalhadores qualificados se alcança este desígnio. Mas, estes têm de ver reconhecido o seu mérito.
Eis, o desafio que ao Estado, mas também aos empregadores privados, se coloca no imediato. Não vale adiar mais. Sabendo-se ainda, que dentro de um espaço globalizado, no qual nos posicionamos, se não podem impor quaisquer restrições à livre mobilidade das pessoas.