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Artigo de Opinião

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1/01/2025 08:00

A Madeira vive um verdadeiro “boom” turístico, acompanhando, aliás, a tendência de todo o território português. Os números não mentem: recordes de visitantes, hotéis e restaurantes cheios, e um crescimento económico que faria qualquer político sorrir em frente às câmaras. Mas, curiosamente, essa prosperidade parece seguir uma lógica própria: é visível nos relatórios de lucros, mas invisível na vida do madeirense comum.

A habitação, por exemplo, está a atingir preços que só fazem sentido para investidores milionários e turistas ocasionais. Não dá para portugueses, muito menos para madeirenses em particular. Culpa da pressão do turismo? Do alojamento local? Das políticas monetárias do BCE para combater a inflação? Quem sabe? Talvez um cocktail de todas estas coisas servido com um guarda-chuva decorativo de incompreensão. Claro, é tudo muito mais complexo, mas quem tem tempo para nuances quando o custo de vida dispara a olhos vistos?

O setor hoteleiro que iniciou uma greve no dia 30 e que acaba hoje. Ah, o glamour de trabalhar em hotéis que nunca estiveram tão cheios! Conversava outro dia com um amigo que trabalha na hotelaria que, entre uma jornada e outra de horas extras, partilhou este desabafo:

”Dizem que a empresa não pode arcar com custos adicionais, por causa do aumento da energia, da água, das matérias-primas. Mas como é possível, se o hotel está sempre cheio e os preços das diárias subiram? Será que a contabilidade bate certo?” Pois, mas é esquecem que esses fatores incidem também sobre o fator trabalho.

Este não é apenas um lamento ocasional, mas a realidade de quem sustenta o turismo da Madeira. São os rececionistas, os bartenders, os camareiros, os motoristas, os cozinheiros, os terapeutas de spa, os jardineiros e o pessoal da manutenção e todo o pessoal da hotelaria que, diariamente, transformam a estadia dos turistas numa experiência memorável. São eles os verdadeiros “postais vivos” da ilha, promovendo a Madeira com sorrisos e dedicação, enquanto, ironicamente, mal conseguem pagar as suas contas e que infelizmente têm de abdicar de passar dias especiais com os seus filhos, família e amigos. Será que alguém se recorda que muitos destes pais e avós na manhã de Natal não estiveram com os seus filhos para abrir as prendas, pois estariam a preparar os pequenos-almoços ou servi-los, ou a preparar os quartos? Nem tiveram o beijo quando bateu as 12 badaladas no dia 31 de dezembro para o dia 1 de janeiro? É claro... Eles abdicam de tudo isso, para um bem maior, o turismo.

Recentemente, em Braga surgiu a primeira creche disponível 24 horas por dia, a creche “Clube dos Pequenos” que servirá para apoiar os colaboradores do Hospital de Braga e da Universidade do Minho. Na Madeira ainda não temos uma creche que tenha esse serviço, nomeadamente para os funcionários da hotelaria. Isso sim, seria uma medida excecional para o incentivo à natalidade.

A greve iniciada no dia 30 de dezembro é o grito abafado de quem está farto de ser o alicerce invisível de uma indústria milionária. Porque, sejamos sinceros: de que serve os “resultados incríveis” se esses resultados não alimentam quem realmente trabalha? “Têm trabalho”, dizem alguns... A renda do fator trabalho é essencial para a Economia regional, bem como a política de aumento do salário mínimo regional que tem sido e certamente será seguida.

E aí vem a conclusão resignada que já virou mantra: “Não podemos fazer nada, não quero perder o meu emprego, e arranjar outro é quase impossível. Este nem é tão mau assim...” Já que chegam imigrantes com menores rendimentos e disponíveis a aceitar qualquer coisa. A receita da conformidade, temperada com medo e servida num prato de desigualdade. “Não pagar [bem] a quem trabalha é pecado que brada aos céus”, lá diz a Doutrina Social da Igreja. Uma política equilibrada entre a estabilidade das empresas e as famílias é necessária e boa para o Estado Regional, as Empresas e as Famílias, sem radicalismos de parte a parte. Que o “boom” seja bom para todos!

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