Um dos grandes problemas do mundo é: afinal, quem é que está a dizer a verdade?
A descrença em tudo foi alimentada por uma classe política populista. Um comportamento que muitos partidos da Região têm replicado, ao levantarem continuamente suspeitas sobre a Comunicação Social. Estarão os jornais comprados?
Conseguiram, com sucesso, criar confusão e nós permitimo-lo.
Neste momento, as redes sociais já não têm qualquer mecanismo eficaz de combate às notícias falsas. Essa decisão foi tomada durante a campanha de Trump, com o argumento de que aumentaria a “liberdade de expressão”.
Hoje, posso mentir (dar uma notícia falsa) nas redes e não me apagam o post, mesmo que este seja denunciado por outras pessoas.
Nenhuma notícia é atualmente verificada. Há até falsas notícias que redirecionam para links com vírus.
Nestes tempos, os responsáveis por avaliar a veracidade de algo somos nós e isso é muito preocupante. Tornámo-nos investigadores, advogados e juízes, sem termos habilitações para tal.
As redes abriram a porta a isto, mesmo que ainda existam jornalistas que tentam, e bem, desmentir as notícias falsas.
Obviamente, quanto mais dinheiro e poder alguém possui, mais essa pessoa pode espalhar as notícias que lhe convém, independentemente de serem verdadeiras ou não.
Temos também uma grande capacidade de negar aquilo em que não queremos acreditar, muitas vezes porque, se acreditássemos, teríamos de desconstruir a pessoa que achamos ser e isso exige trabalho interno. Algo que todos evitamos.
Depois dos resultados das eleições regionais deste domingo, este é, provavelmente, o problema de muitos partidos políticos: negaram os sinais que foram recebendo em diversos atos eleitorais para manter os seus “messias” a todo o custo, quando a política devia ser feita apenas com propostas para melhorar a vida das pessoas e sem “messias” idolatrados.
Tivemos novamente uma campanha com mais acusações que discussões de propostas para resolver os problemas das pessoas. Houve até tempos de antena dedicados a isso.
Os eleitores deram o seu veredicto, votaram no mais acusado e mostraram que não acreditaram - afinal, quem diz a verdade?
Ou, talvez, demonstraram que a possibilidade de estabilidade política é mais importante do que eventuais processos judiciais.
O PSD Regional percebeu isso e fez uma campanha como partido unido e força política com “obra feita” e teve sucesso. Cartazes sem rostos.
Na política e nas redes, confunde-se coragem com ofensa e cobardia com gentileza. O partido mais ofendido foi o que ganhou.
Há também uma crença errada: a de que mudar é mais arriscado do que manter tudo na mesma.
É preciso que os partidos comecem a ler os resultados como as bandas de música leem o público. Fui a um concerto dos The Script e o vocalista disse algo importante: “Estou neste palco porque vocês (público) permitiram.”
Começando pelos aderentes e caminhando até ao eleitorado. Acordem, partidos!
Os partidos que diminuíram ou aumentaram muito pouco os votos nestas eleições deviam criar espaços de reflexão com convidados externos, pessoas da comunidade que, por um lado, podem ajudar a explicar a redução dos votos e, por outro, ajudar a criar caminhos de intervenção política. Isto é lutar por todos.
Hoje, sabemos que temos um eleitorado que gosta de ver “obra feita”, que é regionalista (veja-se a subida do JPP) e que, na verdade, não sabe, ou não quer saber, quem afinal diz a verdade.
“Não basta os governos caírem, é preciso que as alternativas se construam.” — Daniel Oliveira