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Artigo de Opinião

Jornalista

8/07/2021 08:02

São expressões que me habituei a ouvir em determinada altura da minha infância e que ainda recordo.

Tudo isto faz-me recuar no tempo e voltar a este ritual que assisti muitas vezes no adro da Igreja de Santana.

Normalmente este tipo de arrematações nos adros das igrejas acontecia por alturas dos arraiais de verão, mas neste caso não havia data específica para acontecer. Era sempre que alguém por algum motivo resolvia fazer este tipo de oferta para a igreja.

Primeiro acontecia a missa depois vinha o leilão do leitão.

Já no final da celebração o padre anunciava que logo a seguir havia um "porquinho da bacóra" para leiloar.

Isto acontecia lá por volta do meio-dia, logo após da principal missa dominical.

O leitão em questão era um animal ainda com poucos dias de vida que alguém oferecia para a igreja. Como o padre não tinha condições para cuidar do animal, o melhor mesmo era fazer render algum dinheiro que revertia a favor da igreja.

Só havia mesmo uma solução: proceder a um leilão logo após a celebração religiosa que normalmente era mais concorrida.

Os interessados e os muitos curiosos concentravam-se ali à espera que o processo se iniciasse.

O palco era o mesmo de sempre, o adro da igreja onde ficava o povo e o muro junto à igreja da paróquia onde o sacristão (normalmente era o homem que liderava a operação) de pé exibia o animal para ver quem dava mais.

Parte do povo ficava no adro e outra parte até ficava na estrada, por ser uma zona mais frontal onde tudo estava a acontecer. Claro que quem ficava na estrada, de vez em quando, quando vinha um automóvel, lá tinha que se afastar para a viatura passar. Por vezes a operação era acelerada devido à chuva.

Costumava assistir a isto com muita atenção, mas sobretudo com grande curiosidade. Era interessante de seguir aquela disputa para ver quem realmente dava mais e acabava por levar o animal para casa.

Dos valores já não me recordo, mas sei que era ainda no tempo dos escudos e dos contos.

O preço ia subindo à medida que alguém na plateia ia fazendo a sua proposta.

Quem dá mais?… Uma. Quem dá mais?… Duas. Quem dá mais?… E lá vinha de novo outra proposta e o processo começava de novo com um preço mais alto.

A disputa entre os vários interessados por vezes era muito renhida e gerava entusiasmo para quem assistia.

Recordo-me ainda dos grunhidos do leitão de cada vez que era exibido pelo leiloeiro. Sim por que cada vez que o senhor do leilão anunciava o preço, exibia bem alto o leitão.

No final o processo concluía-se com a entrega do "porquinho da bacóra" a quem de facto fez a proposta mais alta. O animal era de novo metido com todos os cuidados numa saca de lona e em muitos casos transportado às costas por quem o comprou até ao chiqueiro lá de casa.

Passados alguns dias o ritual repetia-se. Os protagonistas eram quase os mesmos de sempre.

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