A dor é sentida de forma solitária. A dor é nossa e só nós a sentimos. Sofremos e, ao mesmo tempo, sentimos vergonha de assumir essa dor, porque nos tornamos mais frágeis perante os outros, principalmente quando a dor é psicológica.
Por mais que existam pessoas ao redor de quem sofre, que compreendam a dor, é sempre quem a sente que a leva para casa. Os outros não carregam a nossa dor.
Na verdade, quando temos alguém a sofrer podemos acompanhar e apoiar essa pessoa num dado momento, mas depois seguimos, naturalmente, com a nossa vida, enquanto a pessoa fica sozinha com a sua dor.
Lembro-me de, há uns anos (e ainda hoje acontece), ver alguém assumir que estava em processo de luto pela morte de um animal de estimação e ser completamente desvalorizado, até gozado por outros.
A dor psicológica, a menos assumida, é uma sensação emocional intensa e pode manifestar-se como sofrimento mental, angústia, tristeza, ou uma sensação de vazio e desespero. Diferente da dor física, a dor psicológica está mais relacionada com aspetos emocionais e pode ser causada por diversos fatores.
Ter uma dor por partir um braço é mais aceitável do que uma dor ansiosa, como por exemplo, ter medo de morrer, que já não é tão visível e é mais difícil de compreender.
Os fatores que provocam estas dores psicológicas são individuais e têm a ver com a nossa história de vida. Não há dores mais importantes do que outras. Ninguém controla a dor que sente, com causas variadas, mas todas as dores devem ser valorizadas e validadas, mesmo que sejam sentidas apenas por nós.
Não imaginávamos que, neste século, tivéssemos regredido na compreensão e empatia em relação ao outro. O mundo está pior, e a responsabilidade é de todos nós.
Infelizmente, a dor nos nossos dias é categorizada por estereótipos relacionados com a cor da pele, a orientação política, a religião e o género. Como é possível que a morte de alguém na Faixa de Gaza seja valorizada de modo diferente da morte de alguém nos EUA?
Racionalmente, sabemos que não deveria ser assim — é a mesma dor e o mesmo sofrimento para os familiares das vítimas — mas o mundo parece dizer que não. As novas gerações são ensinadas a acreditar que há dores mais importantes do que outras, isolando cada vez mais quem sofre e sente dor. Porque é que interessa saber a cor da pele ou a etnia de quem morreu ou de quem provocou a morte? Somos ou não todos humanos?
Esta manipulação vai isolar ainda mais as pessoas na sua dor.
Hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental. A dor psicológica pode ser um sintoma de doença mental. É preciso validar esta dor para não agravarmos o estado de doença. Mesmo que o outro sinta a dor sozinho, a validação e o apoio são importantes.
A dor e a solidão são sentimentos que podem estar profundamente entrelaçados, e ambos podem alimentar um ciclo emocional difícil de quebrar. A solidão, em particular, não se refere apenas ao facto de estar fisicamente só, mas também, à sensação de desconexão ou falta de apoio emocional, mesmo quando se está rodeado de outras pessoas. A combinação de dor emocional e solidão pode intensificar o sofrimento, tornando-o mais difícil de suportar.
A dor pode ser enlouquecedora para quem a sente. A filha de Elvis (também já falecida), depois da morte do próprio filho, preservou o corpo do filho num quarto da sua casa durante dois meses.
Sozinha no seu luto? Ninguém iria conseguir carregar a dor dela, mas poderiam ter-lhe dado mais apoio...
”Já vejo o céu em fogo
Cuidado que estou louco
Nunca me senti tão só
Seguimos ofendidos”
A Garota Não, Dilúvio.