Ján Kuciak e a sua noiva Martina Kusnirova foram alvejados em casa. Os seus assassinatos acenderam chamas de revolta que começaram na Eslováquia e rapidamente espalharam-se pela Europa em forma de protestos. Cinco meses antes, num outro Estado Membro, outra jornalista tinha sido assassinada. Daphne Caruana Galizia tinha 53 anos. Ela foi morta em 2017, através do accionamento de um dispositivo explosivo que foi colocado debaixo do assento do seu carro em Malta, depois de ter feito uma série de alegações de corrupção contra pessoas proeminentes, incluindo ministros do governo do Partido Trabalhista da ilha.
De acordo com as estatísticas da Federação Internacional de Jornalistas, 45 profissionais foram mortos em 2021 enquanto desempenhavam as suas funções (desses, 33 foram assassinados em ataques em que eles eram o alvo). Cerca de 1.700 jornalistas foram mortos em todo o mundo nos últimos 20 anos, uma média de mais de 80 por ano, de acordo um relatório publicado pelos Repórteres sem Fronteiras.
Apesar de estarmos a falar de um elevado número de assassinatos que aconteceram em países que estão sob um regime autoritário ou em guerra, é bastante claro que não é preciso ser jornalista de guerra para um profissional da comunicação social tornar-se num alvo. Basta começar a investigar a verdade, como aconteceu com Ján Kuciak e Daphne Caruana Galizia, aqui mesmo, na União Europeia.
As mortes de Ján Kuciak e Daphne Caruana Galizia mostraram dolorosamente que os jornalistas europeus precisam de mais protecção, ou não fosse o artigo 11 da Carta dos Direitos Fundamentais da UE o direito à liberdade de expressão e de informação.
Nenhuma sociedade democrática pode tolerar ameaças e violência contra jornalistas. Os ataques a jornalistas são uma ameaça à liberdade dos meios de comunicação social. A democracia precisa de jornalistas. E os jornalistas precisam da nossa protecção activa. Ontem, para assinalar os cinco anos do assassinato de Ján Kuciak, Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, disse que ‘’continuaremos a lutar por mais ferramentas para assegurar a protecção dos jornalistas’’. ‘’Quando os jornalistas são mortos por fazerem o seu trabalho, por desvendarem verdades desconfortáveis neste continente, partilhamos uma determinação pela justiça. Não pode haver impunidade. Porque a luta pela verdade e justiça é a luta da Europa. Não há democracia sem liberdade de imprensa. Demasiados jornalista como Ján pagaram com o custo da sua vida. Nunca perderemos a determinação de proteger os jornalistas’’, reiterou numa mensagem gravada.
Durante cinco anos, eu fui jornalista. Apesar das minhas ambições profissionais me terem levado para um espectro mais alargado da comunicação, no meu coração vou ser para sempre jornalista. E como jornalista que fui, dou graças aos meus colegas regionais, europeus ou internacionais que põem a sua vida em risco. Seja para cobrir um incêndio no Monte, uma investigação de corrupção em Malta, o terremoto na Turquia, a guerra na Síria ou na Ucrânia, se não fossem por estes destemidos colegas, estariamos às escuras sobre o que se passa além do jardim da nossa casa.