Na Madeira eram 17 horas de dia 25 (diferença horário significativa), pelo que os meus familiares ainda estavam a recuperar da overdose das ceias e eu já estava numa nova década.
Dei por mim a pensar porquê se dá tanta importância aos 30? Fazer 30 anos é muitas vezes construído para ser um enorme marco. É a primeira grande celebração após a nossa "chegada à maior idade" dos 18 anos. Os 30 podem ser vistos como um marco do quanto alcançámos na idade jovem adulta (a partir de agora somos só adultos). Para as mulheres em especial, tem sido historicamente o ponto em que somos pressionadas a sentir como se tivéssemos tudo "em ordem", uma vez que o tic-tac do relógio biológico começa a fazer ainda mais barulho.
Quer estejamos a colocar a expectativa em nós próprios, ou ela venha dos que nos rodeiam, toda essa pressão pode ter o seu preço. Não é surpresa nenhuma que a chegada de uma década tão importante venha frequentemente de mãos dadas com "uma crise de vida".
Começam as perguntas dos familiares que vêm de Londres "e um bebé para quando?"; as comparações com os primos e amigos que casaram/estão casar; os comentários desnecessários como "devias deixar de viajar tanto e poupar o dinheirinho". Mas porquê que uma coisa inválida a outra? Porque que temos de diminuir quem somos só porque uma folha no calendário caiu ou porque a sociedade espera que sejamos isto ou aquilo? No fundo é o que acontece quando começamos nesse jogo tóxico de comparar os nossos feitos com os feitos dos outros. O que não nos dizem é que cada pessoa tem o seu tempo. Cada pessoa faz o seu caminho como pode. O quão sem graça seria se fôssemos todos iguais, se fizéssemos tudo igual.
Se calhar, os 30 deviam ser para deixar de dar importância ao que os outros pensam e esperam de nós e fazer por deixar orgulhosa uma única pessoa: a que está no espelho.
Se calhar não tenho um BMW estacionado na rua, mas estou na Ásia a celebrar a vida. Se calhar o João não viajou este ano, mas recebeu uma promoção no trabalho. Se calhar a Maria não está no emprego que gosta, mas decidiu fazer um mestrado tardio e foi aceite.
Ninguém pode medir as nossas conquistas por nós. Quando penso no que será que os outros vão pensar disto ou daquilo, vêm-me uma realização à mente: um dia, nenhum de nós estará aqui. Então que se lixe!
E para terminar esta reflexão - se calhar é fruto da sabedoria dos 30 - partilho uma conversa que tive há dois dias com um Australiano que conheci por aqui. Em conversa dizia-lhe que tenho amigas a casar, outras a ter filhos e que estava a sentir que não tinha alcançado nada disso. Ele perguntou-me: qual era o teu objetivo para 2022? Respondi: visitar cinco continentes e passar o meu aniversário na Ásia. "E conseguiste, não foi? A vida não é só sobre o destino final, mas muito sobre o desfrutar da viagem. Temos estado a morrer desde que aqui chegámos e muitos de nós não apreciámos a vista".
Por isso, querido leitor, seja que idade tenha ou feitos que tenha alcançado, lembre-se sempre de apreciar a vista. Feliz 2023!