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Artigo de Opinião

O ESPÍRITO DOS TEMPOS

3/12/2021 08:01

Richard Helms, um ex-diretor da CIA, dizia que a CIA não era a sede dos escuteiros. E que quem queria ser escuteiro devia ir para os escuteiros, já que a Agência não era, visivelmente, o local apropriado para eles. O mesmo sucede com os partidos políticos. Porquê? Porque os partidos políticos também não são organizações de beneficência, associações de caridade ou malta reunida para organizar um condomínio ou um campeonato de bisca. São organizações que lutam pelo poder e pela manutenção desse poder, e não escondem esses objectivos, apesar da conversinha escorreita e dos apelos à unidade, à participação ou à camaradagem nos momentos de maior tensão ou de pura catarse.

É em parte isso que define as regras de funcionamento dos partidos políticos: o poder e a manutenção (ou reforço) desse poder. É sedimentada nesta ideia que as teias de interesses se colam, sustentadas por objectivos comuns (individuais e colectivos) que, naturalmente, são variáveis, dependendo da grandeza e da natureza dos partidos. É normal, portanto, haver atritos, conflitos, visões distintas e divergências entre militantes. Como é natural haver alianças de momento, amizades de conveniência e até cumplicidades forjadas quando destinos se cruzam e/ou se complementam. Mas tudo depende dos resultados, das vitórias e das derrotas, de pouco valendo as vitórias morais ou as derrotas virtuosas. Não há complacência: entre o desejo romântico e a análise pragmática, ganha a realidade.

A política distribui bons lugares, oferece reconhecimento, incentiva algum mérito, amplifica egos, permite transformação e mudança, mas também acicata ódios, ressentimentos, invejas e desprezos. A ambição move tudo isto e determina etapas consoante o arrojo, a oportunidade ou ambas. E se bons conhecimentos trazem vantagens (por vezes úteis, outras vezes simplesmente ilusórias), saber estar no sítio certo à hora certa pode trazer dividendos, tal como saber passar a ideia de que se "rende" ou de que se "vale" votos.

Assim, a política é um jogo de alianças, de dialéctica, de risco, de oportunidade e de, claro, forças e fraquezas, o que coloca muita coisa dependente do medo, da liberdade, do custo ou da avaliação do momento. Só que traições não se podem perdoar porque são o cúmulo da deslealdade. E antes que proponha que um líder deve ser clemente, o leitor que entenda que ter uma opinião diferente é uma coisa, que fazer uma crítica é outra coisa, que querer diferente outra coisa ainda, mas que ser desleal não é nenhuma destas coisas. E na política, como a fénix que renasce, convém de vez em quando limpar as ervas daninhas, passar o coador para retirar as impurezas, purgar o sangue.

Nessa óptica, Rui Rio fará muitíssimo bem se afastar das listas alguns que lhe foram reconhecidamente desleais, assumindo-se como magnânimo para com os restantes. E sublinho os reconhecidamente desleais. Só assim não é tomado por fraco. Quem com deslealdade insistiu nas falsas partidas, deve ser desclassificado, assumindo o erro e auto-excluindo-se das tais listas em que ninguém quer entrar, mas de onde ninguém no fundo deseja sair. Alguns já fizeram isso, outros ainda não. Quem se aproveita da proximidade para desferir um golpe, não é um inimigo ou um adversário, é apenas um traidor: dêem-lhe oportunidade e Brutus assassina César. Porém, como sentenciou o grande Omar Little em "The Wire" (a melhor série de televisão de sempre), "se atacares o Rei, é bom que não falhes". Mas se falhares, já sabes que também não é aqui que fica a sede dos escuteiros.


Nota final

Gostava de ter certos militantes do PSD tão empenhados nas próximas eleições nacionais, como os vi agora empenhados nas eleições internas. Seria um sinal de força e de mobilização para derrotar o socialismo que nos empobrece e afunda na cauda da Europa. Estranhei, contudo, a participação de alguns indivíduos nesta eleição interna porque ia jurar que não deviam ser militantes (ou simpatizantes) do PSD, tal o afinco e visibilidade com que costumam fazer campanha contra o PSD. Um engano meu, certamente.

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