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Artigo de Opinião

23/03/2024 08:00

No final da II Guerra Mundial as nações juntaram-se em torno de uma felicíssima expressão de arrependimento comum: «Nunca Mais!».

Nunca uma guerra tinha feito tantos mortos, tantos feridos, tantos desalojados, tanta destruição em tão pouco espaço de tempo. Era o tempo de negociar outra vez de reconstruir pontes derrubadas pela guerra e de contruir pontes onde nunca as houvera.

A Organização das Nações Unidas constituiu-se como um mecanismo de reforço de negociação diplomática. Com mais ou menos boa vontade, criou condições para que novos Estados se reerguessem com a ajuda de vencidos e vencedores. Com mais ou menos sucesso, criou condições para que novos estados nascessem das cinzas, por divisão, descolonização, união ou secessão.

O equilíbrio, pontualmente frágil, entre as superpotências que emergiram produziram um novo mapa geopolítico e criaram condições para uma paz duradoura que se traduziu em crescimento demográfico e económico naqueles que, na Europa, ficaram conhecidos como «os 30 anos dourados», com notável fortalecimento das democracias e do Estado Social.

A lição que devíamos ter aprendido é que Paz é boa para a Economia e o Estado Social é bom para a Paz e que a Liberdade é boa para regar todos estes conceitos.

No entanto, gradualmente fomos esquecendo...

À medida que aqueles que disseram «Nunca Mais!» foram desaparecendo e que aqueles que combateram foram morrendo, foi-se esmorecendo as suas vozes. A História, nos livros é sempre um pouco menos pessoal, mas se os livros não forem lidos, deixa de existir.

Talvez seja por isso, que assistimos hoje a um reavivar da expressão vocal das ideologias que desvalorizam a Paz.

Pouco a pouco, saíram das sombras (porque nunca deixaram de existir) aqueles que acham que o caminho para a sua felicidade é feito pela infelicidade dos outros. Aqueles que pensam que em vez de se promover o desenvolvimento e a educação de um povo, é muito mais fácil criar obstáculos ao desenvolvimento e educação de outros.

Aliás esse é um primeiro passo: desvalorizar a educação, o conhecimento, os intelectuais. Em vez de promover condições para que toda a gente possa aceder ao conhecimento (é caro, bem sabemos) basta apelidá-los de «Elites» e adicionar um adjetivo que reforce uma conotação negativa. Há muito por onde escolher. Cria-se um grupo mítico, do qual fazemos parte, claro, com “pseudo-valores” nobres: «pessoas de bem», «da etnia do nosso território» com a «religião verdadeira» e em seguida empurra-se as «Elites» para o grupo dos «Eles».

Os «Eles» nunca respeitam os «Nós». Nunca estarão à altura e, pior, querem impedir «-nos» de ter o direito a discriminá-los, de «dizer as verdades doa a quem doer».

Os «Eles» têm de ser postos no seu lugar (claramente inferior) para não poderem tirar o «nosso», têm de aprender que «não são melhores que nós, quem é que julgam que são».

Pelo caminho vendem insegurança, amedrontam, apoucam e infantilizam até o seu próprio grupo de supostos «Nós», e confundem com palavras vazias tais como «mérito» (quem o avalia?) ou os «verdadeiros» (qualquer coisa).

Gradualmente depuram o grupo: retiram direitos reprodutivos às mulheres e comunidades LGBTI+, quem não tem a cor de pele certa, quem professa outra religião ou não aceita um (o seu) Deus.

Cuidado com este discurso de «Nós contra Eles», muito cuidado! Devagar, muito devagarinho, quando der por si, deixou de ter lugar à mesa...

A resposta não é criar mais «Eles». É convidar toda a gente para uma comunidade respeitadora dos direitos, em que toda a gente pode ser parte de Nós.

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