2. Desde a anexação da Crimeia, em 2014, que pereceram cerca de 14 mil pessoas na fronteira leste da Ucrânia. E não há maneira de estancar esta mortandade. Embora não tenha sido surpresa para os principais protagonistas do conflito, não há justificação para a ofensiva russa, nas mãos de um perigoso ditador que não é claro no que pretende. Apenas sabemos que estamos numa disputa imperialista nas suas várias facções, que escolheu como local, desta vez, a Ucrânia para medir forças e garantir as suas ambições expansionistas. Esperemos que as negociações na Bielorrússia tragam uma resolução.
3. Até agora, tem sido uma ofensiva mais intimidatória, mas começar uma guerra é fácil, acabar é bem mais difícil. Esperemos que não seja o rastilho de uma 3.ª Guerra Mundial. Até porque a Europa não tem condições militares para tal e está dependente dos EUA.
4. O conflito não se trata apenas da Ucrânia, embora a Rússia tenha sempre alertado que não aceitaria a NATO nas suas fronteiras. As ameaças de Putin à Finlândia e Suécia sobre a possibilidade de adesão à NATO, assim o comprovam e talvez sejam a sua primeira derrota. O medo tem isolado a Rússia e aproximado os países europeus até então neutros aos EUA, com uma corrida à NATO.
5. As escolhas pró-ocidente do presidente ucraniano, podem originar até uma nova ordem mundial. A possibilidade de uma ofensiva nuclear, obriga-nos a muita cautela. Com a imprevisibilidade de um conflito desta dimensão, a paz na Europa corre sérios riscos. E sem paz não há democracia e liberdade que resista. Vejamos, hoje, o que a lei marcial na Ucrânia implica, significa que os homens ucranianos entre os 18 e os 60 anos estão proibidos de deixar o país. Quem vê de longe o conflito até parece uma coisa honrosa e a incentivar, defender a pátria contra a ofensiva de Moscovo. Mas se fosse connosco, com os nossos filhos, o caso mudava de figura. Nenhum homem deve ser obrigado a ir para a guerra, de um confronto que não escolheram e que não têm qualquer hipótese de ganhar. Por isso, a romantização da resistência ucraniana causa-me alguma urticária. A que custo sobrevive? Os ucranianos também têm o direito a não querer morrer na guerra. A pátria é muitas vezes um nome pomposo para camuflar os interesses económicos que nada têm a ver com o bem-estar e a segurança da população. E espero que pelo menos quando começar a chegar os caixões a ambos os lados, possam pôr a mão na consciência e chegar a um acordo. Combater a Rússia nos métodos tradicionais não vai resultar, não temos capacidade militar para isso.
6. O que o Putin teme mais que o avanço da NATO e da democracia é a perda de recursos e riqueza. A Rússia é hoje um país capitalista, movido pelos interesses económicos dos seus oligarcas. Tanto que as sanções europeias aos negócios com os russos têm demorado a chegar. O dinheiro tem falado mais alto que o sangue ucraniano derramado. E num mundo globalizado, o facto de precisarmos uns dos outros, pode ser o grande fator dissuasor da escalada do conflito. Uma guerra não se ganha só com bombas e tropas.