O Natal nunca será o que era, porque perdemos pessoas que gostávamos muito.
Para além deste triste facto, há outras grandes diferenças. Diferenças que estão sempre relacionadas com a nossa idade atual.
Se pensar no Natal da minha infância (anos 70), noto logo algo. O efeito do modelo capitalista tomou conta do nosso Natal. Por exemplo: não me lembro de receber mais do que uma prenda em criança. Nessa altura, só havia uma loja de brinquedos no Funchal e era suficiente. Hoje, todos nós cedemos ao consumismo e compramos para oferecer como forma de mostrar amor. Os meus pais amavam menos os seus filhos?
O consumismo domina de um modo perigoso. As redes estão cheias de vídeos e fotos do Natal. As prendas oferecidas e recebidas são notícia de jornais e histórias nas nossas redes. Pensando sobre a realidade do mundo, fiquei preocupada. Estamos a criar crianças e jovens, num mundo de fantasia que não existe. Uma fantasia muito perigosa, porque o receber algo, já não implica nada. Vão perceber esta grande mentira, em adultos!
Num dos Natais da infância dos meus filhos, lembro-me da preocupação que vi nos olhos do meu filho, quando uma adulta da minha família tinha pedras misturadas com a prenda. Receber pedras, era um castigo.
Vi muitas crianças e jovens a receber prendas, com muita pressa e sem grandes emoções. A minha mãe ensinou, aos filhos e netos, a reutilizar o papel de oferta. Na cabeça destas crianças de hoje, o Pai Natal traz sempre prendas, independentemente da situação financeira dos pais, ou do modo como elas se têm portado.
Temos menos dinheiro. Este facto refletiu-se nas prendas de Natal, das nossas crianças e jovens, este ano? Frustramos os nossos filhos ou netos? Como os meus pais fizeram comigo e com os meus irmãos, nos anos menos bons.
Outro facto é querer, através das prendas, mostrar o quanto somos bem-sucedidos na vida. É um sucesso ilusório, representado pelo valor monetário das prendas que damos, mesmo que esse dinheiro faça falta. Quanto mais valiosa é a prenda, maior é o amor?
Antigamente, os nossos pais e avós faziam as suas refeições de Natal e convidavam a família para comer e beber. Decoravam as suas casas e trabalhavam no dia de Natal, ou na véspera, para nos receber. Poucas prendas (pijamas e meias), mas grandes convívios sociais. Muitos gostavam disso, porque, atualmente, tendo em conta essas memórias, dizem: “O Natal já não é o que era.”
E porquê? Porque a maioria de nós já não se dá ao trabalho de receber em casa, como éramos recebidos. É um modo de desistirmos do verdadeiro significado do Natal. A maioria dos adultos de agora ou vai comer fora ou encomenda feito. Os patrões já não fecham restaurantes e takeaways, no dia de Natal. Na minha infância, só iam comer fora, aos hotéis, os mais ricos, porque as empregadas folgavam, para estar com a suas famílias.
Neste momento, é possível comprar tudo. Com dinheiro, mostramos o que nem sempre somos, muitas vezes com grandes custos, para a nossa família. Devíamos pensar sobre o tempo que tiramos da família, para ganhar esse dinheiro e o que fazemos com ele.
Repensar o modo como vivemos o maior momento de família, era bom. Temos de educar para o prazer de estar uns com os outros, em vez de alimentar consumismos excessivos que alimentam vazios perigosos.
“Em vez de falarmos em bem-sucedido (muito relacionado com a dependência do dinheiro), temos de falar em bem realizado. Bem realizado tem mais a ver com o nosso estado emocional!” Branco Vasco